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Filosofia

Filosofia, Socorro!!

A grande maioria dos jovens, quando integram o ensino secundário, deparam-se, pela primeira vez, com uma disciplina chamada Filosofia, da qual, não raras vezes, nunca ouviram falar. Superam-se as primeiras aulas e continuam a ter dificuldade em perceber para que serve e até mesmo explicar o que é. É verdade que há professores trôpegos no que respeita à introdução desta matéria nova e também há os maus professores, já sabemos, mesmo por vezes tendo um considerável domínio da matéria e grande capacidade teórica e intelectual, no entanto sem saber conduzir o canal de transmissão.

Contudo, mesmo os bons professores não têm a tarefa facilitada. Veja-se que as crianças conhecem as disciplinas de Português, de História e Geografia, de Estudo do Meio, perto dos seis anos; na pré-adolescência são introduzidos a uma série de outras disciplinas como as línguas, maternas ou não, a História e Geografia, que deixam de ser siamesas, e as ciências, que se expandem no campo exacto da objectividade, com a Matemática, Físico-Química e Ciências Naturais… Mais tarde, chegam ao secundário e, nos impressos das matrículas, está lá uma tal de Filosofia. Esses jovens já ali chegam adestrados.

Desde os primeiros anos, foram, na generalidade – salvo algumas honrosas excepções que actuam de forma diversa, estimulando e não domesticando o intelecto – ensinados a decorar. Os professores debitam matéria, de acordo com um programa imposto por um Ministério que tem de uniformizar o ensino com as suas directrizes, e os alunos são premiados se decorarem bem. Não lhes é pedido muitas vezes que pensem, tão só que saibam reproduzir convenientemente o pensamento transmitido.

Quando o professor tem a desafiante tarefa de explicar e introduzir de forma académica o que é a Filosofia, os alunos não compreendem a sua utilidade. A Filosofia pretende ensinar a pensar, a desenvolver o espírito crítico, a capacidade de raciocínio, a desenvoltura argumentativa. Pretende ser mais um exercício de reflexão que de memória. Contudo, o pensamento original, a valência criativa que pode ter o intelecto, não costuma ser valorizado no percurso que esses jovens já fizeram, pelo que a Filosofia extrapola a linha condutora que os levou até ali, não encontrando terreno fértil onde se fixar. Não se deparam só com uma nova disciplina, mas com uma sugestão diferente de aprendizagem, em moldes até então desconhecidos.

Pensar é uma capacidade inata que pode, precisa e merece ser exercitada, nos vários estágios do desenvolvimento. Ora, uma criança na exaustiva fase dos ‘porquês’ está esplendorosamente a exercitar a sua capacidade de filosofar, muitas vezes travada pela falta de tempo e paciência que parecem inevitáveis, nalgumas ocasiões. Este travão imposto, muitas vezes, por educadores exaustos assemelha-se ao que acontece no sistema de ensino, onde não é suposto que o aluno questione a informação transmitida, mas antes a assimile e, mais tarde, a reproduza. O espírito crítico é condenado e diminuído sempre que procura aparecer, havendo, desde logo, uma produção em massa da massa cinzenta, que deve obedecer aos parâmetros de qualidade sob pena de não sair para o mercado, assim garantem as grelhas de avaliação.

A própria Filosofia que acontece na grande maioria das salas de aula no ensino secundário não se consubstancia em aulas de Filosofia propriamente dita, mas de Introdução à Filosofia, trazendo ao panorama o que é a História da Filosofia, onde se faz um voo panorâmico sobre alguns filósofos considerados clássicos, importantes. É certo que esta introdução a uma matéria desconhecida é fundamental para perceber, entre outros, os alicerces onde assenta o nosso pensamento, como que a facultar ferramentas sobre as quais se possa trabalhar, digamos que a distribuir ovos pelos cestos, mas falta fazer as omeletes (analogia um pouco rasteira, não?). É verdade que a disponibilização de dados para o património intelectual da criança ou jovem é essencial para que possam construir a partir daí, mas em vez de serem tratados como um repositório de dados inertes e enfadonhos, devem ser convidados, de forma dinâmica, a arrumá-los.

Naturalmente, o pensamento filosófico stricto sensu não se adequa ao estado de aprendizagem de uma criança de seis anos, ou onze anos, mas a capacidade de pensar, sim. De forma adaptada, com certeza, sem usar os termos ditos filosóficos, a Filosofia não deveria aparecer tão tarde na formação de um jovem. Esta capacidade de pensar que trazem deve ser valorizada e desenvolvida num ambiente que promova o debate, a crítica, a análise, de forma conjunta, como se todos estivessem a convergir para uma finalidade comum, um fim mais próximo da Verdade, para o qual todos poderiam dar o seu contributo.

A fórmula antiga lembra-nos esta forma de fazer Filosofia – em vez de aprender Filosofia – com o Diálogo Platónico. As obras do filósofo grego materializaram-se para a posteridade em textos dialécticos, com dois ou mais intervenientes, que estabeleciam um caminho comum, uma busca partilhada da Razão, mediante debate participativo, mesmo havendo um que assumia a posição de mestre, condutor.

Ilustração da Escola Filosófica de Atenas
Escola de Atenas, Rafael

Para além de fazer chão para indivíduos mais tolerantes, hábeis na utilização das suas capacidades intelectuais, com uma maior abertura para conviver com o pensamento diverso, com aptidão para lidar com controvérsias, traz sobretudo uma maior autonomia, visto serem convidados a pensar de forma activa e não só aprender o que os outros pensaram.

O contacto com a Filosofia traria vantagens em fazer-se mais cedo, vejamos que o Ser Filósofo é estar mais perto do ser criança. É ter e fazer por manter essa capacidade de se Espantar com o Mundo, essencial para que a filosofia aconteça. É cultivar no espanto a premissa para o caminho premente de questionar o Ser no Mundo.

A Educação não se resume à aprendizagem de factos, mas ao treino da mente para pensar.

Albert Einstein

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