Europa: Fragmento e União

Fundações construídas há mais de meio século estão hoje ameaçadas pelo risco de iminente rutura. A crise económica fez estremecer a união da zona euro, urge agora a necessidade em travar o colapso de uma Europa a 27, vítima da infame ruptura financeira.

O que outrora se susteve como um símbolo de paz para os países do Velho Continente é hoje um mero acordo diplomático e monetário entre Estados que partilham cada vez menos convicções políticas e económicas. O dinheiro é, aliás, um denominador comum nesta história paradoxal de harmonia e discórdia. O colapso financeiro, consequência da crise da dívida pública europeia, foi despoletado pelo imparável incremento da dívida dos governos de países como a Grécia, a Irlanda, Espanha e Portugal. As bolsas inquietaram-se, as agências de rating fizeram descer os martelos punitivos que aumentaram o receio nos mercados.

O SOS fez-se ouvir, bem audível, ressoou nas economias dos países menos afetados pela má gestão dos dinheiros públicos, e levou ao inevitável: executivos caídos em desgraça, flagelo social espelhado na revolta popular, cada vez mais amarga e violenta. A política europeia, embora activa, não é ainda a heroína a surgir por entre o nevoeiro; é primeiro urgente que a Europa encontre novo fôlego de união e partilha de convicções estaduais.

O objetivo núcleo da União Europeia pode até estar cumprido, com a paz bélica a reinar no Continente sofredor de perdas inestimáveis ao longo dos séculos. No entanto, é um novo género de tensão económica que faz ruir os alicerces da congregação.

A união monetária e o combate além fronteira, do qual é figurino a Guerra do Iraque, são exemplos de outras questões igualmente fraturantes entre os Estados membros, mas os grandes líderes estão dispostos a grandes compromissos para atingir maiores marcos.

Angela Merkel, Francois Hollande

A França de Hollande e a Alemanha de Merkel estão no centro de todas as pressões, revoltas e disputas. Foram a força matriz que impulsionou a moeda única, contudo, estão hoje opostos nas políticas e na forma como esperam liderar a Europa a bom porto económico. Se François Hollande aposta na taxação das grandes riquezas, no crescimento financeiro e ascensão socialista, já a chanceler alemã, mulher forte da Europa quebrada, mantém-se irredutível na convicção de que austeridade é sinónimo de mal necessário.

A Grécia mantém o estatuto de perigoso aliado no matrimónio monetário, não obstante, a saída do país do euro pode colocar em causa todo o cômpito europeu a 27. Impõe-se a questão, sobre se o colapso de um Estado pode significar igual fado para os restantes. Tal como a crise da dívida se revelou contagiante, também o insucesso da ajuda financeira externa pode ser letal.

Para evitar o colapso latente, os mais de 20 estados membros passam agora por um dos mais decisivos instantes na tentativa de reverter os efeitos nefastos da rutura económica. Na mesa, em Bruxelas, esteve o acordo para o orçamento de 2014-2020. A prova de fogo foi arrastada durante 18 meses, com negociações que fracassaram. O tempo urge e é intransigente para os líderes europeus que, apesar de atormentados pelo fantasma do incumprimento da Europa unida, optam pela negociação longa e difícil.

Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, apela à urgência se os líderes “quiserem que as futuras políticas e progrmas da UE funcionem com fluência e ofereçam resultados no crescimento e emprego no próximo ano”.

Os esforços são cada vez mais decisivos, a diplomacia esvai-se perante a urgência gritante de países onde a esperança já não tão recorrentemente integra o léxico quotidiano. Há quem acredite num pós-braço de ferro com resultados positivos para a União Europeia, outros mantém-se pessimistas quanto à frutuosa conclusão da mais crítica crise onde a Europa jamais mergulhou. John Loughlin, professor da Universidade de Cambridge, departamento de política e estudos internacionais, permite-se alguma ambiguidade, suspeitando que “a EU acabará por inverter o caminho – mas quem sabe? Têm existido tantas surpresas recentemente, e nunca saberemos exactamente o que se está ao virar da esquina”.

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