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Escolas fechadas?

Adoraria que este país tivesse temas de notícia tão pouco sérios que pudesse falar-vos sobre o cacho de uvas híbridas que acabei de devorar, e que não são comercializadas na Europa por razões desconhecidas.

O problema é que ainda acontecem coisas sérias, como as escolas fecharem por falta de funcionários. Melhor ainda, as escolas programarem fechar mas logo alterarem os planos graças à intervenção da comunicação social.

Passou-se na Póvoa de Santa Iria, cidade da periferia de Lisboa com uma percentagem simpática de população jovem. Aqui, no burgo onde resido, não se notam os efeitos da quebra na natalidade e, no entanto, parecem faltar adultos que zelem pelas crianças durante o período escolar, ninguém sabe dizer porquê.

A situação tornou-se incomportável quando, numa escola com mais de trezentos alunos com idades entre os seis e os dez anos, existiam duas funcionárias: uma no portão e outra a vigiar as mais de trezentas crianças. Impuseram-se algumas medidas que pudessem colmatar a ineficiência da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares, entre as quais a de que uma classe de trabalhadores em perigo de Burnout rodasse entre os estabelecimentos de ensino afetos ao agrupamento. As salas começaram a ficar por limpar e as expectáveis baixas por motivo de doença foram surgindo, o que apenas veio agravar um quadro que já não era famoso.

O agrupamento, apesar do desconforto manifestado por alguns pais, fez o que tinha que fazer e tomou uma medida de exceção: encerrar as escolas em dias rotativos, hoje encerras tu, amanhã encerro eu. Falando em bom português, “cagou” para os programas de ensino e priorizou a segurança das crianças e a saúde dos funcionários. Medidas impopulares são, por vezes, necessárias.

Desengane-se quem pensa que o problema é de agora, o problema existe há muito, sofreu apenas um agravamento que era iminente. Como “amor com amor se paga” e a D.G.E.R.T. não cuidou bem dos seus, os seus bateram o pé: a direção do agrupamento encerrou escolas, os pais chamaram a comunicação social e, antes que se ouvisse um “ai”, saiu outro comunicado a dizer que afinal o Ministério da Educação se havia penitenciado e teríamos mais funcionários ao serviço.

Confesso, perante vós, que fui uma das delatoras. Em conversa com alguns pais, concordámos que a comunicação social poderia exercer a pressão necessária para que a normalidade regressasse num curto espaço de tempo e não nos enganámos. CMTV e SIC ouviram as nossas preces, mas saíram outras notícias no SAPO e Notícias ao Minuto (dessas lavamos as mãos), que informavam que o caso da Póvoa de Santa Iria não era o único e que a capital não teve tratamento diferente.

Hoje, todas as escolas abriram ao contrário do que estava previsto. Assunto resolvido num país em que se vai tornando corriqueiro fazer queixinhas aos media para ver assuntos importantes resolvidos com rapidez. É quase como chamar o homem do saco quando a criança birrenta prefere brincar em vez de comer.

Aprende, D.G.E.R.T.: com a educação não se brinca.

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