Em tempo de guerra não se limpam armas!
Esta é uma frase feita e conhecida de todos nós, mas que agora volta a fazer sentido mais do que nunca, aplicando-se a estes tempos que correm. No entanto esta utilização deverá ser feita de modo inverso ao seu sentido, ou seja, por muito que nos custe, neste tempo de guerra temos que limpar armas.
E limpar armas significa limpar medos que nos assolam e preocupam, porque desconhecemos o que se poderá passar. Porque ainda não aprendemos bem a experimentar vivências familiares mais intensas, que nos obrigam de um momento para o outro a colocarmo-nos mais uma vez à prova e a superarmos todo este difícil processo.
E esta é uma prova difícil de superar, por todos e cada um de nós!
O obstáculo que se nos depara, ou o inimigo que nos confronta se assim o quisermos apelidar é invisível e espreita por detrás de qualquer movimento que possamos fazer.
No entanto, este deveria ser também um período de introspeção, em que finalmente nos foi dada a oportunidade, transformada em tempo, para tantas realizações que fomos adiando e que nos foram sendo vedadas por falta de oportunidade, nomeadamente para quem se encontra no registo de tele trabalho, agora é toda uma nova oportunidade de organização de vida que temos que promover.
De repente percebemos que de nada vale assumir condições de intransigência ou de luta, o cenário é dantesco por todo o mundo. Aproveitemos esta oportunidade que o universo agora nos oferece para realçar em nós o que temos de melhor. Deixemos que esta preocupação que é comum a todos, não apenas aos portugueses, mas aos cidadãos de todo o mundo, faça de nós seres humanos mais atentos ao que é essencial à vida, em suma, as pessoas e a saúde.
Aprendamos a perceber na agressividade ou nas atitudes encapotadas dos outros, um pedido de ajuda de quem ainda não percebeu o que realmente importa na vida, afinal somos passageiros e apenas turistas neste percurso terrestre.
Estamos a prazo, apenas não conhecemos o limiar da nossa finitude, mas certo é que não viveremos para sempre como dizemos às nossas crianças quando lhes lemos histórias de encantar, em que os personagens centrais da história vivem felizes para sempre.
No nosso caso, o para sempre é hoje. E agora mais do que nunca deveremos aprender a lição de modo a perceber o real sentido da vida, a viver um dia de cada vez, para que depois, num futuro próximo, com toda esta situação ultrapassada, consigamos com saúde e em segurança continuar a viver realmente um dia de cada vez. Aprendendo a valorizar cada instante e retirando da vida todo o suco e saber que nos seja possível retirar.
Sendo insaciavelmente atentos ao que nos liga e aproxima uns dos outros, mais do que as ideologias e crenças de cada um, que separam e dividem pessoas por razões absolutamente disparatadas.
Que este Covid 19 deixe em nós a capacidade de valorizar o ser mais do que o ter, que todos percebamos a nossa semelhança e sobretudo a nossa precariedade enquanto pessoas, não somos super heróis, somos frágeis e pequeninos face ao poder do universo e do planeta, que teimosamente persistimos em não preservar, e em considerar como um objeto a ser usado mais do que um “lar” que deveremos preservar para nós e todos os nossos.
Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero.
– Nelson Mandela