Ele está vivo!

Amar! Mas de um amor que tenha vida…

Antero de Quental, in Sonetos

Gosto tanto de ti!
Gosto da tua companhia!
Adoro ser tua amiga!
Amo-te!

Palavras, palavras que transmitem calor,palavras ricas, cheias e doces. Palavras que confortam, que curam, que beijam suavemente a nossa face. Palavras simples que, por vezes, arranham a garganta, escondem-se por debaixo da língua, ficam presas entre dentes e, simplesmente, não saem.

Contudo, ele está vivo, sabes? Ele, o Amor! Ele que nasceu pequenino e cresceu, insano e apaixonado, um amor selvagem e louco que não se deixava envergonhar pela multidão, aquele que não negava um beijo, um carinho, por muito público que houvesse à sua volta! Um amor apaixonante e apaixonado, amadurecido pela vida e que hoje chegou à idade adulta. No entanto, Ele está vivo, sabes?

Este “novo-velho” Amor afirma convicto que não precisa de palavras nem de grandes gestos, que não quer carinhos na multidão, que isso é coisa de amores jovens! A este “novo-velho” amor basta apenas um olhar simples, pois nele estão todas as declarações de amor alguma vez escritas e muitas vezes pensadas, basta um aceno de cabeça porque, para este “novo-velho” amor vale tanto um beijo roubado na rua como uma cama acabada de fazer com lençóis lavados. Mas Ele continua vivo, sabes?

Na rua passa um casal. Trazem com eles o tal Amor jovem: fresco e desavergonhado e trocam mimos como se não houvesse amanhã. Naquele momento, ao “novo-velho” amor, há um batimento que falha: eu não preciso daquilo, eu sou um amor maduro! Fico feliz com um beijo de boa noite depois de deitar os miúdos, fico contente com um café acabado de fazer trazido à sala. Eu não preciso daquilo! Mas Ele está vivo, sabes?

Ele está vivo, ele vive! E, como para qualquer outro ser vivo, é preciso cuidar, dar-lhe o essencial para sobreviver, é preciso deixa-lo respirar e alimenta-lo para que cresça.  O tal “novo-velho” amor precisa tanto ou mais de alimento como aquele que ainda ontem nasceu, mesmo que o negue veemente. Precisa de carinho, de massagens, alimenta-se de palavras cuidadas e cuidadosas, daquelas que às vezes teimam em não sair. Bebe de gestos simples, de mãos dadas, de risos cúmplices e gargalhadas sonoras. Inspira cada mimo e expira cada beijo.

Ele está vivo, sabes? E, como vivo que está e que é, também tem dias menos felizes, com menos vontade, dias em que se esquece de se alimentar, mas por isso é que nele há dois corações: para que, quando um estiver mais para baixo, o outro o ajude a vir para cima e assim se mantenha equilibrado. Nessas alturas revolta-se, grita, chora bem alto. Nessas alturas só queria ser outra vez fresco, apaixonado como no dia em que nasceu, quer ir para a rua e gritar a plenos pulmões: Eu estou vivo, sabem? Gritar que quer alimento, que tem espaço e vontade para crescer !

Por isso, acho que já sabes que Ele está vivo, e mesmo quando afirma convicto que não precisa de nada, desconfia, não acredites logo! Alimenta-o, cuida dele, trata-o sempre como quando era fresco e novo. Vá, Ele está vivo, sabes? Não o deixes morrer!

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