Este é o segundo livro dos “romances adultos” de Carlos Ruiz Zafón. Apesar de não ser preciso ler o primeiro para conseguir acompanhar este, é sempre uma mais-valia ler, não só por serem histórias deliciosas, mas porque, no fim, quando os pontos se vão unindo, ficamos sempre com uma imagem mais completa, com outra percepção do que tudo significa e, claro, descobrimos ainda um bocadinho do livro anterior. No entanto, embora cada livro valha por si próprio, é neste que se encontra a essência para se perceber completamente o terceiro, El Prisionero del Cielo.
Em El Juego de Ángel, encontramos a história de David Martín, um aspirante a escritor, que, com a ajuda de um amigo e a ser enganado pelos seus editores, lá se vai safando no mundo literário, assinando pequenos contos semanalmente com outro nome. A sua grande oportunidade chega, quando um misterioso editor francês, Andreas Corelli, se interessa pelos seus livros. David, vaidoso e ansioso por uma chance como escritor reconhecido, ao aceitar trabalhar com o editor francês, a sua vida começa a andar a um ritmo vertiginoso para: os seus editores aparecem mortos e ele vê-se livre de uma doença grave, tudo graças aos poderes – aparentemente sobrenaturais – de Andreas Corelli. Será ele humano? Um anjo? Ou o diabo? O que é que pedirá em troca de todos aqueles favores? Ou, mais importante ainda, o que é que David estará disposto a fazer por aquela oportunidade?
Enquanto isso, novamente nas ruas de Barcelona, os destinos de vários personagens encantadores e lúgubres cruzam-se, destapando-se o véu de nevoeiro que banha a cidade, para se conhecerem várias histórias difíceis e dolorosas, mas nem por isso menos mágicas. Como em todos os livros que já li dele, Ruiz Zafón estica muito as cordas do real e do irreal, mas consegue fazer-nos acreditar perfeitamente em cada vírgula, ao transformar o fantástico em realismo mágico (também presente em Gabriel García Márquez). Importante mencionar que, sem escapar à tradição, também neste livro temos presente o Cemitério dos Livros Esquecidos, e, claro, mais um Sempere (não, não é Daniel). Desta vez, vão ter de descobrir quem é o personagem do clã Sempere que vive esta história e desvendar mais um pouco da história desta família.