Egipto: Entre Golpes de Estado e uma tímida Democracia

Da luta pela liberdade e direito a viver em democracia, fruto da Revolução Egípcia de 2011, que colocou um ponto final no regime de 30 anos de Hosni Mubarak, uma nova figura se ergueu no cenário político egípcio: Mohamed Morsi. Nas primeiras eleições realizadas democraticamente no Egipto, Morsi, activista islâmico e líder do Partido da Liberdade e da Justiça, fundado pela Irmandade Muçulmana, foi o homem escolhido para conduzir o país na tão prometida democracia.

Propondo um regime mais livre e igualitário, que a administração anterior, Morsi declarou a sua intenção de se tornar “o presidente de todos os egípcios”, fazendo uma clara menção à minoria cristã – os coptas – e às constantes tensões religiosas entre muçulmanos e cristãos. Ao assinalar um ano do regime de Morsi, as intenções do líder egípcio já tinham mudado, bem como o apoio popular. Nesse dia, as ruas voltaram a encher-se com milhões de manifestantes contras as políticas arbitrárias e repressivas, exigindo a demissão imediata do presidente.

A 3 de Julho de 2013, após um ultimato das Forças Armadas do Egipto, Morsi foi deposto do cargo de presidente, mediante um golpe de estado, engendrado pelos militares, apoiado por milhões de egípcios. Mais uma vez, as ruas egípcias foram incendiadas em disputas entre aliados Morsi, liderados pela Irmandade Muçulmana, que reclamam o regresso do líder islâmico, e inimigos do regime.

Após ao golpe de estado, o exército nomeou um governo interino, o qual designou a criação de um “comité de sábios”, constituídos por cerca de 50 especialistas, com o propósito de reverem a Constituição. Composta por personalidades de várias facções politicas, nenhuma das pessoas presentes nesta comissão está ligada à Irmandade Muçulmana, reflectindo o desejo do governo interino de afastar este movimento do cenário politico.

Tentando contrariar a todo o custo este afastamento, a Irmandade muçulmana tem convocado inúmeras manifestações a fim de reverter esta situação. Porém, após dois meses da deposição de Morsi, o movimento islâmico começa a perder força, graças à acção repressiva militar e policial (que já vitimou milhares de apoiantes desta facção) e às detenções dos dirigentes, contradizendo as declarações do exército que prometeu respeitar a liberdade de expressão e de manifestação pacífica dos diferentes grupos políticos.

FOTO: AFP
FOTO: AFP

Comunidade internacional a favor da “reconciliação nacional”

Junto da opinião pública mundial, a acção desencadeada pelo exército egípcio,que culminou com a deposição de Mohamed Morsi, não foi condenada, devido à ligação com a Irmandade muçulmana. Para a comunidade internacional ocidental, o regime de Morsi, que no início representou um sinal de esperança, no rescaldo das múltiplas revoltas no Norte de África e no mundo árabe, rapidamente se transformou num perigo pela proximidade aos ideais islâmicos.

Apelando à “reconciliação nacional”, EUA, ONU e a UE preferiram destacar a necessidade de restaurar o mais rapidamente possível a ordem nacional, segundo os princípios da democracia, através da realização de eleições presidenciais e legislativas livres e justas.

Para a nação egípcia, o derrube de Morsi representou mais um capítulo no caminho revolucionário da Primavera Árabe. Ainda que o golpe tenha sido executado pelos militares, das massas vieram os protestos, das massas vieram os gritos insurrectos, e das massas continuarão a surgir mais exigências até que a liberdade seja uma realidade e não uma mera promessa.

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