“Mudam-se os tempos… mudam-se as vontades”. Vivemos numa sociedade em que esta frase faz cada vez mais sentido. Os tempos são rápidos e triviais, tanto que damos por nós a afirmar que “antigamente é que era”. Um antes que, inevitavelmente, nos remete para uma infância feliz.
Nos anos 80, crescer era bastante diferente e não quer isto dizer que fosse necessariamente mau. Sem acesso às tecnologias, até porque ainda estavam para ser inventadas, as crianças sabiam brincar. Mais do que brincar, sabiam conviver entre si e partilhar brinquedos.
Estavam na rua o dia inteiro. As meninas preferiam a macaca e o elástico, os rapazes dedicavam-se ao futebol e às bicicletas. Em qualquer das actividades, corriam o risco de se aleijar. Tinham joelhos esfolados, faziam entorses e partiam cabeças. Não tinham juízo, o corpo é que pagava e assim aprendiam as mais valiosas lições.
Ficavam de castigo, sem antes levar uma, ou outra palmada. Dizia-se que “nunca fez mal a ninguém”. Respeitavam os mais velhos, quer pelo medo que tinham de voltar a apanhar, quer pelo reconhecimento do esforço que faziam para lhes dar uma vida melhor. Sabiam que as coisas não caiam do céu, de mão beijada, e que era necessário esforço e dedicação para as conquistar.
A realidade de hoje difere, na maioria dos casos. Culpa-se a mudança dos tempos e a falta de tempo dos pais. O imenso mundo electrónico faz com que a recompensa pela ausência recaia na oferta de um gadget qualquer. Ficam sossegados, não chateiam, nem fazem birra e assim evitam cobranças de presença.
Ali ficam, horas a fio, a olhar para um ecrã. Usam óculos em idade precoce e sofrem de obesidade, por falta de exercício físico. “Não” é palavra proibida. Por mais que a criança berre, chore, esperneie, há sempre uma solução que não passa pela palmada. É que bater é considerado maus tratos e as crianças de hoje, cada vez mais inteligentes e desenvolvidas, sabem disso. Que mesmo que se portem mal, vão sempre ter aquilo que pedem. E nunca vão dar valor ao que recebem.
O que se perdeu na educação foi o próprio tempo. Os pais, após um dia de trabalho, entregam-se ao cansaço. A paciência escasseia e não tolera chamadas de atenção. Acabam por acarinhar com objectos, com “sins” a tudo, para subtrair a carência dos filhos. Há a necessidade urgente da rigidez dos tempos passados. Dizer “não” quando é preciso e incentivá-los quando estão no caminho certo. Saber a diferença para a poder ensinar e, para isso, é preciso dedicar-lhes tempo.
Dizer “não” vai fazer com que o detestem, mas é um mal necessário para um bem maior. Num mundo onde tudo tem um acesso facilitado, um “não” pode promover a criatividade e a procura de soluções. As crianças precisam de ser motivadas a descobrir a realidade, além da virtual. Para crescer é preciso sair da fantasia. Aprender por experiência própria, consigo presente e disponível. Lembre-se que, quanto mais equilibrada for a relação com o seu filho, maior será a probabilidade de estar a formar um adulto saudável.