Ê saudade! Qual a sua?

Saudade…

Há quem diga que é uma palavra exclusiva no português. Será? Quase um mito multissecular, afirma que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa e como tal não tem vocábulos equivalentes em outras línguas, impossibilitando uma correta tradução. Mas relatos e estudos provam que isso não é verdade!  A teoria ganhou renovada popularidade quando a empresa britânica Today Translations promoveu uma listagem das palavras mais difíceis de traduzir adequadamente, onde “saudade” granjeou o sétimo lugar. Isto acontece, segundo Carolina Michaelis (primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa, na Universidade de Coimbra) por ser uma palavra corrente, indissociável da cultura portuguesa e com um significado complexo.

E não é que faz mesmo sentido? Só agora, depois de pesquisar mais sobre o tema, consegui maior clareza. Logo eu, que sempre fui crente de que a saudade era “só nossa”, portuguesa com certeza e ponto (final). Mas que o significado é complexo, não espanta, pois não? É aquela sensação de uma ausência, de algo ou alguém. Mas nem se pode relacionar com um sentimento de tristeza ou de lamentar. É mesmo nos remeter à momentos felizes, lembranças que nos trazem alegria, boas sensações, por mais que não voltem, ficam o que foi de bom. 

Se for ao dicionário, lemos: sau-da-de / nome feminino, sentimento de mágoa (?!), nostalgia e incompletude, causado pela ausência, desaparecimento, distância ou privação de pessoas, épocas, lugares ou coisas a que se esteve afetiva e ditosamente ligado e que se desejaria voltar a ter presente. Um cheiro que relembra à comida de infância, uns biscoitos saindo do forno na casa da avó ou os encontros barulhentos de tanta conversa alta, na casa dos pais aos finais de semana… aqueles aniversários com mesa posta, bolo gelado envolto no alumínio (papel prata) dentro da caixa… ou aquela pipoca que era garantida toda ida à praça, com o pipoqueiro de plantão! Era mesmo uma diversão. Sau-da-des! 

Arrisco em dizer que é algo que nos alimenta e motiva até. Viver hoje, com atenção aos detalhes no convívio e rotina com os nossos, em busca de mesmo que involuntariamente, criar memórias para levarmos adiante, connosco e com que vivemos. E essa vivência um dia será só saudade! Quem nunca falou ou ao menos ouviu pais, sobre os filhos, a dizer: “Crescem tão rápido que parece que foi ontem, quando ainda estavam a nos pedir colo.” Ou netos, que relembram com carinho os passeios com os avós, os miminhos que tinham e dariam tudo para sentir ao menos o cheirinho, o chamego deles novamente, ouvir um conselho ou até um ralhete sábio. 

O imigrante que vai para uma terra nova, sente falta da terra natal, mas se um dia voltasse já percebia muitas mudanças. É a saudade do que já passou e não volta, porque tudo muda. É saudade do que já não existe. A cidade que nasceu continua lá mas o que viveu nos anos que lá morou, mudou. Literalmente! 

Em uma saída trivial, pode nos fazer esbarrar com alguém muito parecido com alguém que já partiu… O rosto, o jeito, às vezes até o perfume. Ativam lembranças e “ela” bate novamente! Não nos persegue, mas diria que fica em “modo automático”. No subconsciente, basta um “efeito gatilho” e chega certeira, impregnada em cada um de nós. Ao lembrar de um lugar ou pessoa, isso alegra ou machuca? É saudade ou nostalgia? Quase beira a melancolia. Faz música, faz poema. É a vida! 

Para seguir, é preciso talvez assentar e trabalhar a mente para entender que estamos em constante evolução. A vida se transforma, anda para frente e não nos permite viver só de emoção. Desapegar e não nos permitir que memórias sobressaiam o presente. Rupturas fazem parte da vida, o passado fica para trás. Boas lembranças, fazem lindas memórias e nos alimentam, preenchem nossa bagagem emocional, mas ciclos se fecham e outros virão. 

Focar no hoje, pensar no amanhã e lembrar do ontem, balanceando mente e coração. A saudade que nos deixe com sorriso no rosto, alegria no peito e alimento da alma. O tempo e a saudade estão diretamente interligados. Não é em vão que os mais experientes aconselham: Aproveite cada momento, cada instante! Usufrua, curta, viva. 

Como nos diz a cantora Ana Vilela, com Trem Bala: “Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar… E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar… Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais… Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás… Segura teu filho no colo… Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui…  Que a vida é trem-bala, parceiro…” 

Nota: Esse artigo foi escrito seguindo as regras do Português do Brasil

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