Devem pensar que estou louco! Louco, certamente!
Eu vejo a forma como aquele búzio olha para mim, menospreza-me com ar de escárnio.
E o caranguejo? Esse até consegue rodar a cabecinha para a esquerda e para a direita qual sinal de reprovação.
E o louco sou eu!
Juro que vi o polvo sair de dentro de água e aconchegar-se junto a mim. Até me tocou com um tentáculo, ao de leve, na perna.
E o louco sou eu!
Não sei bem como vim aqui parar. Começo a duvidar se a minha cara está molhada da chuva que cai, magistralmente, do céu ou das lágrimas que brotam dos meus olhos, escorrem pela face e teimam em não cessar. E choro porquê? O mar revolto, bravo, imponente chama-me para si e quer engolir-me na sua grandeza até que desapareça nas suas ondas. Acalma-me tal pensamento.
Mas tenho impressão que morreria se o fizesse e isso não me parece nada apelativo.
E o louco sou eu!
Contudo, estou mais preocupado com estas pessoas que parecem estar sempre a falar atrás das minhas orelhas! Ora me dizem para chorar, ora me dizem para sorrir! Ora me transformam na pessoa mais feliz do mundo, ora me consomem por dentro e me fazem sentir como se não pertencesse a lugar nenhum!
Não sei onde elas estão, não as vejo, só as ouço em mim qual burburinho que não termina.
Serão parte de mim? – chego a interrogar-me – Mas como podem ser se observo o meu reflexo neste mar e só reconheço a minha pessoa?
E questiono-me, embora sem resposta: quem sou eu?
Serei estas pessoas que ouço e todas as outras que ainda não ouvi?
Serei os pequenos fragmentos que cada uma deixou nas profundezas de mim, transformando eles em mim e eu neles?
Porque, pensando bem, serei eu o louco ou eles o louco em mim?