Confesso que compreendo perfeitamente a tremenda antipatia (vamos colocar a questão nestes termos mais “simpáticos”) que o Mundo tem para com Donald Trump. Efectivamente, a atitude arrogante, belicista, irracional, tresloucada e autoritária – tão do agrado do cidadão norte-americano e do emigrante português radicado nos USA! – faz com que o europeu (especialmente este e só este) tenha uma certa raiva para com Trump. Daí que seja perfeitamente natural o recente regozijo de muitos quando um Chefe de Estado (no caso Marcelo Rebelo de Sousa) de um pequeno país europeu chega à Casa Branca e dá uma de grande líder perante Trump – especialmente se tivermos em linha de conta que tanto Merkel como Macron foram, há não muito tempo, publicamente menosprezados (e muito mal tratados) pela Administração Trump.
O problema é que tudo isto é muito giro, mas está longe (muito longe) de ser o essencial. Dito de outra forma, para que todos me percebam, as recentes cenas tristes do Sr. Presidente Marcelo na Casa Branca podem ter sido motivo de satisfação para quem se contenta com a temática “enche chouriço” muito própria da dita “imprensa cor-de-rosa”. A mim, espectador e eleitor muito mais exigente do que a crassa maioria dos portugueses, para além de me ter parecido que Donald Trump estava nitidamente a gozar com o nosso Chefe de Estado (algo que vindo de Trump não é para admirar), ficou a nítida e amarga sensação de que Marcelo aproveitou uma cimeira para nada de relevante para ambos os Estados se discutir.
Tendo em consideração o que veio a público, nada se discutiu na dita Cimeira. Neste momento, em cima da mesa da chamada geopolítica estão interesses comuns a Portugal e Estados Unidos da América que importam clarificar em vez de se ver quem é o “Professor e o Bronco”. Um destes interesses até que é bem conhecido de todos nós. Refiro-me à questão da Base das Lajes, cujo futuro permanece ainda muito incerto. Refiro-me, também, à posição dos USA perante a NATO e à nova Ordem Mundial que a guerra na Síria está, aos poucos, a modificar radicalmente. Estes temas, entre muitos outros do foro comercial (e não só), é que deveriam ter sido alvo de debate de uma forte e acérrima defesa dos interesses de Portugal e da Europa por parte do Presidente Marcelo. Só que em vez disto tivemos uma espécie de competição de virar microfones in loco, em que (segundo os festejos de muito boa gente) Marcelo parece ter dado uma tremenda “tareia” pública a Trump.
E para terminar, volto a perguntar: E discutir o essencial?