Aqui ao lado, na vizinha Espanha, está em curso uma revolução democrática. No Domingo passado, nas eleições autonómicas e municipais, os espanhóis arrasaram eleitoralmente (e literalmente) o PP – a direita que no poder, tal como em Portugal, aplicou à risca a receita prescrita pelo governo alemão: austeridade e empobrecimento.
A imprensa espanhola, da direita à esquerda, no dia a seguir às eleições, assinala esta revolução democrática. “Mudança radical”, Mudança histórica”, ou “Ada Colau (a activista anti-despejos que venceu em Barcelona) o símbolo da reviravolta” são alguns dos títulos na imprensa. Os resultados obtidos por candidatos apoiados pelo Podemos, nomeadamente em Barcelona, Madrid, Cádis, Saragoça, La Corunha, Valência, por exemplo, não podia ter outra interpretação.
A vitória do PP em número de votos a nível nacional é uma vitória de Pirro. Por duas razões. A primeira, porque significa que a direita no poder conseguiu apenas 27% dos votos dos espanhóis. O resto, excluindo umas migalhas (o partido Cidadãos, apesar das sua bases programáticas, faz parte da mudança) são votos à esquerda. A segunda, porque o PP, entre Comunidades Autónomas e Municípios, perdeu meio milhar de maiorias absolutas e não tem a quem se coligar, o que significa (dada a arquitectura eleitoral do país vizinho, em que os acordos pós-eleitorais que reúnam maioria absoluta nas Assembleias é que determinam quem governa) que o PP pode vir a ser varrido da governação de centenas de municípios e de algumas comunidades autónomas. Uma pesada derrota.
Os socialistas espanhóis foram os segundos vencedores da noite eleitoral. O PSOE obteve um resultado muito próximo do PP (menos dois por cento), apesar de uma parte do seu eleitorado tradicional ter votado em “candidaturas de cidadãos”, apoiadas pelo Podemos e outros partidos e movimentos de esquerda. Isto significa que, nas eleições legislativas no final do ano, o voto útil (tendo em atenção que se trata de escolher o governo nacional) funcione a favor dos socialistas e estes, naturalmente, alcancem uma votação muito superior ao PP. Ao contrário do exemplo grego, a mudança democrática, em Espanha, não está a ser feita à custa dos socialistas (os socialistas gregos caíram de 49% para 3% com a ascensão do Syriza), mas, sobretudo, à custa da direita.
Em suma, as eleições de Domingo, em Espanha, confirmaram uma profunda mudança nas opções dos eleitores que se traduz no fim do bipartidarismo, entre o PSOE e o PP. Daqui para a frente, nada vai ser igual às últimas três décadas, porque os eleitores espanhóis, com o seu voto, não o permitem. O resultado eleitoral em Barcelona ficará como símbolo da vitória da cidadania e da democracia sobre os anquilosados partidos tradicionais, fechados sobre si próprios.
Aguardemos, com paciência, uma revolução democrática em Portugal.