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Osama Bin Laden

Dos factos que a História argumenta

Começa sempre da mesma maneira. Já muitos outros lhe deram expressão nos mais variados meios e contextos e a forma tem sempre inerente o peso e a expressão do recorrente “lugar-comum”. No entanto, vamos fazê-la e começá-la, da mesma maneira, mais uma vez. Pense e diga-nos: Onde é que estava… no dia 2 de Maio de 2011?

Provavelmente a data não lhe diz nada e, por isso, estará a pensar que já passou tanto tempo que teria de ter uma super-memória para se recordar. No entanto, se a pergunta disser respeito ao dia 11 de Setembro de 2001, há uma forte probabilidade de saber exactamente onde estava e o que fez no dia em que a caixa mágica mostrou ao mundo o terrorismo em directo. Acontecimentos como o ataque ao World Trade Center, a alunagem de Neil Armstrong ou a morte de J.F. Kennedy, ficaram gravados naquela que a psicologia designa Memória Emocional que, impossibilitada de armazenar todas as nossas lembranças, privilegia os momentos em que vivemos emoções forte. Desta feita, emoções vividas colectivamente, com forte impacto na estrutura e desenvolvimento da vivência em sociedade. Maurice Halbwachs, sociólogo francês, foi quem criou o conceito de Memória Colectiva, segundo o qual, “as nossas lembranças permanecem colectivas  e são-nos lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objectos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre connosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem”.

Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda, organização fundamentalista islâmica responsável pelos atentados de 11 de Setembro, foi capturado no dia 2 de Maio de 2011, quase 10 anos depois do ataque terrorista que vitimou, directa e indirectamente, mais de três mil pessoas. Da operação, sabemos que teve lugar em Abbottabad, no Paquistão, e que culminou com a morte do líder terrorista por recusa de rendição. Depois da captura, sabemos que o seu corpo foi sepultado no mar, em local não especificado, para evitar o culto, e que Barack Obama agradeceu solenemente “aos inúmeros profissionais de inteligência e contraterrorismo que trabalharam incessantemente para chegar a esse resultado”, assim como “aos homens que executaram essa operação, porque eles exemplificam o profissionalismo, o patriotismo e a coragem sem paralelo daqueles que prestam serviço” aos Estados Unidos da América. Sabemo-lo, porque assim nos foi dito e transmitido pelos media, aos quais assim foi comunicado oficialmente pela Casa Branca.

Esta história ficaria por aqui, quieta e inquestionável, não fosse o facto de Matt Bissonnette, um dos “corajosos patriotas que executaram esta operação”, ter ousado dar a sua versão dos acontecimentos. O que, a avaliar pelos detalhes que expõe no livro No Easy Day (Um dia Difícil, em português), em muito deve ter desagradado à Casa Branca. O ex-militar conta no seu livro que não foi o primeiro a disparar contra Osama Bin Laden quando a sua equipa entrou no esconderijo do terrorista, mas que havia disparado em seguimento de outros tiros, sem qualquer remorso: “Os tiros entraram pelo lado direito da sua cabeça. Sangue e massa cinzenta espalharam-se pelas paredes. No seu leito de morte, ainda se mexia com convulsões. Perante estes movimentos, eu e outro SEAL apontamos os nossos lazeres ao seu peito e disparámos mais balas, esmagando o seu corpo contra o chão”, relata.

Bissonnette deixou as forças armadas americanas logo após a missão de captura de Bin Laden e editou o livro sob o pseudónimo Mark Owen. No entanto, a sua identidade foi revelada pela Fox News, dias antes da publicação. No Easy Day, tornou-se o livro mais vendido nos EUA, mas o ex-fuzileiro vive agora escondido, ameaçado de morte por radicais islâmicos.

E a vida segue. Nos Estados Unidos da América, como no mundo. As pessoas lêem este ou outros relatos da operação de captura de Bin Laden, mas logo os arrumarão nas estantes, deixando espaço na memória para as reviravoltas históricas, os acontecimentos épicos que, segundo os neurocientistas e os psicólogos cognitivos, hão-de integrar a memória colectiva e dela fazer a História. Provavelmente não se recorda do que fez antes, ou depois de ouvir Barack Obama “informar o povo americano e o mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda e um terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes”. Talvez até já nem tivesse isso presente como um acontecimento importante. O facto é que Bin Laden foi protagonista de um dos maiores atentados contra a integridade humana, cujas sequelas permanecerão muito para além da recordação da sua morte, de resto apenas um detalhe na História.

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