Quis o acaso que o primeiro filme a ver após instalar o Stremio fosse Three Identical Strangers, um documentário produzido pela CNN em 2018. Três gémeos, separados à nascença para adopção, cruzam-se aos dezoito anos entre os acasos da vida.
Desengane-se quem crê que revelei o que não devia pois destapei apenas a ponta de uma história que me fez trocar o sono pela escrita destas impressões enquanto ainda estavam frescas.
Há muito que sou fã de cinema documental e este filme, se bem que não forme novidade a técnica de revelação dos acontecimentos, é um exemplo na arte de contar uma história. A elegância com que ela vai sendo revelada ao longo da hora e meia de filme deixou-me pregado ao sofá, enquanto a complexidade de um enredo inacreditável se ia desenrolando.
A Psicologia, quando bem explorada, é uma área que desperta o meu interesse. Este filme também condiz com os amantes da Psicologia e suscita, uma vez mais, a eterna questão acerca do que influi mais no comportamento humano: se a genética, se o meio?
Quando uma história tem tanta força, tantas dimensões e levanta tantas questões, facilita o trabalho a quem está incumbido de pegar no material e dar-lhe uma forma interessante, no entanto, o profissionalismo de quem tratou o texto e a construção do enredo, mantendo-se fiel à verdade dos factos e à arte, deve ser aplaudido.
O filme conduziu-me até um outro que vi há uns seis ou sete anos e que creio ter sido a obra que mais me chocou (não apenas entre documentários mas de todos os filmes que vi): Dear Zachary: A Letter to a Son About His Father. Uma vez mais, revelar demasiado acerca desta obra tão poderosa configura um crime por si só, mas posso avançar que o filme nasceu da vontade de Kurt Kuenne documentar a vida do amigo, Andrew Bagby, assassinado pela namorada Shirley Jane Turner depois de esta não aceitar o fim da relação. Após ser presa, Shirley anunciou estar grávida de Andrew e foi essa a ironia do destino que levou Kuenne a querer apresentar ao pequeno Zachary, o pai que ele nunca viria a conhecer.
A partir daqui, tenho que me afastar do enredo. O filme mostra como o ódio e o amor se entrelaçam de um jeito que me levam a utilizar o termo “irónico” com séria reserva pois a leveza que a ironia aporta a qualquer descrição é incompatível com a força avassaladora deste filme.
É uma verdade la palice constatar que tudo parte da realidade, mas estes dois filmes mostram como a vida real consegue ser mais inverosímil, fantástica, incrível, surpreendente, chocante e bela do que a esmagadora maioria das obras de ficção. Somos convidados a mergulhar nos imponderáveis destas vidas e nas consequências inimagináveis que as imortalizaram sem estarmos preparados para tal. Depois de ver estes filmes, dificilmente “saímos ilesos”.