Igualdade, liberdade. São valores que todos os governos democráticos prometem. Não só actualmente, mas desde o nascimento da democracia. Na Grécia antiga, o berço deste sistema politico, a existência da escravatura é um sinal de que estes conceitos foram, de algum modo, uma ilusão. No entanto, não se pode esquecer que foram dados os primeiros passos para a democracia e para a intervenção das pessoas do povo na política. Só que, para ganhar acesso a estes cargos, fazem promessas, que nem sempre são concretizadas.
“Todos os homens são criados iguais e dotados de certos direitos inalienáveis“. Foi com esta frase que o Congresso norte-americano aprovou a Proclamação de Independência, no dia 4 de Julho de 1776. Porém, será que o país que proclamou a igualdade para todos os vê como iguais? É possível que o país, como sistema, olhe realmente para todos de uma forma igual, mas e o país, enquanto conglomerado de pessoas, que pensam, que sentem e têm opiniões?
Nos últimos tempos, o mundo assistiu a várias manifestações, depois de alguns jovens negros serem mortos por policias brancos, que, na maioria dos casos, acabaram absolvidos no julgamento. Michael Brown, Kajieme Powell, John Crawford, Tamir Rice. Estes são apenas alguns dos nomes mais conhecidos, cujos casos tiveram maior destaque. As manifestações e os protestos que se seguiram atraíram a atenção de todo o mundo para os EUA. Os políticos norte-americanos falaram do assunto, afirmando que são precisas medidas, mudanças. Foi uma preocupação constante para uns, que, no entanto, ganhou actualmente a atenção de todos.
Este não é um problema novo neste país. Os EUA sempre foram vistos como a terra das oportunidades, o que atraiu muitos imigrantes. Desde europeus, especialmente nas duas grandes guerras e nos períodos após as mesmas, quando a Europa se encontrava com dificuldades económicas, até asiáticos, hispânicos e de África. Os primeiros imigraram, a segunda geração nasceu lá e, enquanto que os filhos de europeus tornaram-se facilmente americanos, os descendentes dos hispânicos e africanos têm a cor da pele que os lembra sempre da sua origem. Contudo, será que este facto os distingue dos outros? Será só a cor da pele?
Há muitos outros factores que contribuem para a discriminação racial. As disparidades económicas, a escolaridade e o acesso ao mercado de trabalho são alguns dos pontos que fazem com que a desigualdade racial continue. Um relatório divulgado pela Fundação Annie E. Casey afirma que as crianças afro-americanas, hispânicas e indígenas são mais expostas à pobreza e ao atraso escolar, mas também com menores perspetivas para o futuro.
Sheryll Cashin, professor de Direito na escola de Direito de Georgetown, fala de “bilhetes de lotaria”. Ou seja, a sorte, ou não, de nascer no lugar certo, com uma boa vizinhança e que os pais tenham a oportunidade de investir no futuro, de investir nos estudos, mas também de ter boas escolas por perto e um sistema de educação eficiente.
A educação é um dos factores que permite a mobilidade social. Não só a mobilidade social, mas também o sonho e a esperança de uma vida melhor. É o lugar onde se aprende, um lugar de convívio, de experiências, o lugar onde fazem-se amigos. É o lugar onde todos são, ou pelo menos deveriam ser, vistos como iguais. Até porque não é a lei só que tem o poder de dizer que todos são iguais. Tal como John Kennedy disse, as pessoas confrontam-se como questões morais, são com estas que lidamos diariamente.
Foi também Kennedy que começou o projecto que viria a ser conhecido como Civil Rights Act, no ano de 1964, onde se afirmava a proibição da discriminação no mercado de trabalho, na educação, tal como a lugares de empregos públicos, ou mesmos governamentais. O melhor exemplo seria sem dúvida o actual presidente dos EUA, Barack Obama, o primeiro presidente negro e que teve a confiança do seu povo por dois mandatos seguidos. Será, então, a desigualdade racial tão forte, ou será que a desigualdade económica tem uma força maior?
Depois de 50 anos, nem tudo o que foi escrito naquele diploma está a ser implementado a 100%, mas, pelo menos, há a tentativa. É uma luta diária e a luta dá-se principalmente na mudança de pensamentos, de ver o outro, de perceber o mundo. É a mudança que demora mais tempo.
A desigualdade, assim, é um problema actual e, tal como outros problemas sociais, têm picos de atenção que vão acabar lentamente até que poucos se lembrem deles. Quando acabam, ouvem-se as mesmas pessoas de sempre a falar do assunto, muitas vezes não sendo mesmo ouvidas. Enquanto que para uns a desigualdade racial é um desafio esporádico, para outros é um desafio diário.