‘Viver no momento’ não é apenas um lugar-comum ou uma pseudo-filosofia de vida. É um carpe diem quase inatingível quando desfrutar do presente é, na verdade, uma tarefa herculeana para o Homem que, pura e simplesmente, se preocupa demais.
Quem não resiste a uma espreitadela rápida ao horóscopo, mesmo que isso implique deitar por terra um cepticismo que até se julgava inabalável? Tarot e uma bola de cristal até podem ser um nadinha demais para os mais convictos no falhanço dos autoproclamados clarividentes; transversal é mesmo o medo, e a expectativa, em saber o que nos espera ao virar da esquina.
Pensar demasiado no futuro gera, inevitavelmente, preocupação, ao mesmo tempo que acresce ao já habitual stress do quotidiano. Mesmo existindo esta consciência colectiva, a maioria de nós não consegue ignorar o constante devaneio pelo que há-de ser. Sabido que a ansiedade é um dos factores de risco para cair na depressão, a obsessão com o futuro é, independentemente da tentativa de racionalização, parte da condição humana.
De uma perspectiva científica, alguns psicólogos acreditam que os pensamentos negativos sobre eventos futuros evoluíram para um comportamento construtivo, vocacionado para a resolução de problemas. Preocupação excessiva não deixa, ainda assim, de ser mais prejudicial que benéfica.
Pensar de forma obsessiva no que vai acontecer é um comportamento que deriva de uma outra necessidade humana, a de sentir que se assume o controlo sobre o próprio destino. A preocupação crónica, onde tais comportamentos como a obsessão com o futuro encaixam, incita um padrão de pensamento onde não existe lugar para o processamento cognitivo, sobre-estimulando o sistema límbico do cérebro, responsável pelo processamento expressivo-emotivo e, subsequentemente, pelo controlo das emoções e receios.
No limite, a preocupação levada ao extremo pode mesmo fazer com que o corpo físico seja incapaz de gerir o stress. Problemático é mesmo o facto de ser perto de impossível tentar não pensar no futuro ou estabelecer metas e gerar planos, numa tentativa de controlar o que, na verdade, é incontrolável.
A ansiedade desempenha um papel basilar para todos os que não resistem a uma leitura de mãos ou previsões afins. O problema é que o comportamento despoleta um ciclo vicioso que dificilmente se quebrará. Quanto mais ansiedade, mais preocupação com o futuro, o que por sua vez agudiza a inquietação. Anular a repetição parece bastante simples, basta saber abraçar o momento presente e obliterar o futuro recorrendo a dias preenchidos para não ter tempo de pensar no de amanhã, aprender a aceitar a incerteza e a efemeridade de tudo o que nos rodeia e não fazer demasiados planos. Mais fácil escrito que feito.
Jordana, muitos parabéns pela abordagem do tema. Como tarólogo e astrólogo, este é um tema com que me debato frequentemente, nomeadamente nestes últimos tempos, trazido pelos meus clientes. Uma grande parte do meu tempo é passada a desmistificar muito dos conceitos de previsão que estão associados ao tarot e à astrologia e que são completamente errados. A grande questão passa por nos libertarmos exactamente desses pontos de controlo e obsessão que temos em nós e que são potenciados pela própria sociedade e que fazem com que vivamos mais focados no futuro e soframos com isso do que sintamos e aproveitemos o presente, o agora! Obrigado!
Muito obrigada pelo seu comentário, Leonardo! O fascínio pelo esoterismo é de facto um indício da necessidade de controlar o que nos alheio. Acho que é muito importante ter a lucidez suficiente para compreender e racionalizar o que de facto nos leva a procurar essa sensação errática de controlo.