Com o cenário político tão agitado em Londres e uma tão aparente acalmia e ambiente de total cooperação no seio da União Europeia, confesso a minha clara e manifesta preocupação. Especialmente quando olho para a nossa vizinha Espanha e constato que um partido fascista de nome «Vox» – admirador de Franco e defensor de que a violência de género não deve ser alvo de legislação e muito menos punida penalmente (entre outras atrocidades) – está muito próximo de alcançar o poder na Assembleia Regional da Andaluzia. Em França, o movimento coletes amarelos, não obstante a triste e enfadonha onda de violência, coloca cada vez mais em xeque um sistema democrático de representação que padece de uma grave crise de representação.
Em suma, na Europa dos nossos dias é cada vez mais notório o distanciamento entre os partidos/classe política e eleitorado/cidadão, daí o crescimento de movimentos radicais e o renascimento, em força, de partidos de ideologia fascista, xenófobos e ultra-nacionalistas. O cenário é hoje muito parecido com aquele que se viveu antes da Segunda Guerra Mundial. A crassa (e feliz) diferença é que o belicismo que vigorava na mente de todos na época das Grandes Guerras já não se aplica hoje. Pelo menos na Europa, onde se acredita, cada vez mais, que é muito mais eficaz atacar-se a soberania de um país pela via económica, dado que são muitas – e tremendamente eficazes – as “armas” disponíveis para tal. E quando tal não é possível, basta aos países beligerantes optar por uma postura “à moda da” Guerra Fria, como sucedeu recentemente no conflito Russo-Ucraniano no Mar de Azov.
Ora, face a tudo isto, é deveras impressionante para quem segue os serviços noticiosos portugueses e lê as opiniões de quem tem por hábito comentar o dia-a-dia da nossa política interna e externa. E mais impressionante é a forma descabida e pouco recomendável como o nosso Primeiro-ministro desprezou publicamente o movimento dos coletes amarelos em França. E, como ele, muitos outros Ministros e Presidentes por esta Europa fora pensam e agem da mesma forma, como se o actual sistema de representação democrática não estivesse numa crise aguda.
Deixemo-nos de chauvinismos. Deixemos de olhar para o «Brexit» como algo de divertido que só os afecta a eles (ingleses). Paremos de nos comportar como se fossemos os Donos do Universo. O Mundo está hoje, mais do que nunca, muito perigoso e esta forma altiva (quase que cega) já abriu caminho até ao Poder de personagens obscuras como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Órban (entre outros) e tolera as atrocidades cometidas pelo príncipe herdeiro da Arabia Saudita e do Primeiro-ministro de Israel.