Amam, namoram, desejam e excitam-se. A sociedade insiste em tratá-los como assexuados, mas as pessoas com deficiência também têm sexo.
As práticas íntimas saíram à rua sem preconceitos. O sexo já não é o tabu que outrora parecia ser. Contudo, o direito ao sexo nem sempre é socialmente legitimado. Afinal, sexo e deficiência – por tabu ou preconceito – são sempre termos que parecem não acasalar.
Criaram-se mitos. Os portadores de deficiência são vistos como pessoas sem sentimentos, pensamentos e necessidades sexuais, ou, em alguns casos – associados à deficiência mental -, como hipersexuais. São vistos como indesejáveis, considerados pouco atraentes. Há quem pense até que não conseguem usufruir de forma nenhuma do sexo.
Perante as mensagens que chegaram e continuam a chegar a cada indivíduo dizendo-lhe como ser e como agir, os padrões de normalidade foram construídos, foi-se construindo uma realidade. E nesta realidade, “continuamos, globalmente, a conviver com ideias antigas, muitas vezes prescritivas, de que o sexo é dos jovens, glamorosos e belos, e que são estes os desejáveis e os competentes”, referiu a responsável pela Consulta de Sexologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Patrícia Pascoal, à revista Visão.
O modo preconceituoso com que se lida com a sexualidade de pessoas com deficiência está associado a estes padrões que são instaurados como “normais”. Perante os padrões, a importância da sexualidade é diminuída. A família e os profissionais de saúde não adoptam as melhores práticas para promover a sexualidade saudável dos portadores de deficiência e, por vezes, nem ponderam a questão.
Contudo, esta é essencial ao desenvolvimento humano e, portanto, também é essencial ao desenvolvimento de pessoas com diversidade funcional, tendo repercussões na vida pessoal e social. Além disso, o sexo é importante para o bem-estar, já que oferece benefícios físicos e psicológicos. De acordo com os especialistas contactados pelo site WebMD, as pessoas que têm relações sexuais têm um sistema imunitário mais forte, menor probabilidade de sofrerem um ataque cardíaco, maior probabilidade de se sentirem mais relaxadas e sem dores. O sexo é, ainda, excelente para a auto-estima.
Afinal de contas, os deficientes não são assexuados? A sociedade parece acreditar que são. No entanto, estas ideias são apenas um modo estereotipado de compreender a questão. São realmente muitos os mitos. E a crença nos mesmos torna-se num obstáculo para a vida afectiva e sexual de pessoas com diversidade funcional.
Foi precisamente para desmistificar esta questão da sexualidade dos deficientes que nasceu, em Novembro de 2013, o movimento Sim, Nós Fodemos. Começou a ter visibilidade no espaço público e foi tentando abordar o tema com naturalidade. A 14 de Fevereiro quis pôr Portugal a falar de Sexualidade e Deficiência e parece que realmente o tema chegou a vários pontos do país – nem que seja através dos meios de comunicação que deram visibilidade ao evento. Falta agora saber se os portugueses estão dispostos a falar do tema e a tentar ultrapassar os preconceitos.