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De quem é a culpa?

Teresa olha para o calendário e faz o balanço da sua vida.

Mais um ano está a chegar ao fim e tudo continua igual, os seus dias cheiram a tédio e a vida sabe-lhe a desilusão e solidão. Dá vida a um casamento mal resolvido, vive encostada a um emprego que não a valoriza, enfim não há luz que brilhe  nos seus dias.

O silêncio paira naquela sala, enquanto ela em silêncio faz um “flash back” à sua existência. Recostada no seu sofá cinzento, de braços cruzados culpa a vida por tudo o que lhe foi acontecendo.

Mais um ano que está a chegar ao fim e não sei o que fazer desta minha vida. Há quanto tempo não dou uma gargalhada daquelas que me saiam de dentro. Há quanto tempo não sinto a felicidade a fazer-me cócegas na pele.

Teresa fazia aquela pergunta a si mesma, como se não soubesse a resposta, ou talvez estivesse a questionar a vida na esperança de que ela de pudesse fazer um milagre. Mas, o silêncio continuava por ali, naquela tarde que chegava ao fim enquanto enquanto o escuro entrava na sala fazendo com que o turbilhão dos seus pensamentos ficasse cada vez mais  embrenhado naquela pergunta para a qual não encontrava resposta.

Afinal de quem é a culpa!?

Lembrou-se do dia em que conheceu o marido. Recordou as inúmeras juras de amor que trocaram durante meses a fio até ao dia em que ele a pediu em casamento. A memória longínqua do dia do casamento tinha o som do seu sorriso e cheiro da felicidade que espalhou por todos naquela tarde em que a única coisa de que se lembra é de que só lhe apetecia sorrir. Uma felicidade que sonhou que seria eterna. Quando passados três anos nasce o seu filho ainda conseguiu encontrar espaço para mais felicidade e vida parecia-lhe perfeita, como se tivesse sido feita à medida de um sonho.

Então, por que razão essa felicidade tinha desaparecido como que por milagre!

Olhou para trás e não entendeu a razão por que tinha deixado de amar o marido e também não encontrou qualquer explicação para as ausências constantes dele, que faziam com que vivessem como se fossem dois desconhecidos obrigados a partilhar a mesma casa. Se tudo era perfeito em que ponto das suas vidas essa perfeição deu lugar à solidão que a acompanhava há alguns anos. Sentia-se sozinha numa casa onde existiam mais duas pessoas. O marido vivia para o emprego, que lhe ocupa mais horas do que aquelas que o dia tem. O filho, que entretanto cresceu, andava ocupado com os estudos e com os amigos e esquecendo-se da mãe que sempre lhe dedicou todo o tempo, até mesmo aquele tempo que por vezes lhe faltava.

Teresa viveu, uma vida inteira, para eles e hoje eles não tinham tempo para ela.

Que tristes se tornaram os meus dias! pensa ela a chorar, culpando, uma vez mais, a vida por toda a dor que sentia no seu peito.

– ” E de quem é a culpa?” Escutou de uma voz que lhe vinha de dentro de si, das profundezas da sua alma. Ficou ali em suspense, quase sem respirar à espera de uma resposta. Aquela que seria a resposta mais importante da sua vida, a resposta que ela não tinha coragem para dar.

– ” De quem foi a culpa?”

O som da pergunta entrava-lhe pelos ouvidos e espalhava-se de imediato pela alma e pelo coração. Talvez fosse a sua própria voz a dizer-lhe num tom meigo que ela tinha deixado de viver para se tornar numa escrava deles. Quis dar-lhes tudo e com tudo isso gastou o tempo da sua vida. Não teve tempo para amar o marido porque vivia ocupada em fazer tudo, com a desculpa que ele estava cansado e de que esses eram trabalhos de mulher. Tornou-se na escrava da família.

Teresa descruzou os braços e saltou do sofá. Olhou para si, como se não se reconhecesse, continuava a procurar por quem proferia aquelas palavras que faziam eco na sua mente. Parecia-lhe a sua voz a dizer-lhe que o que estava a viver era o resultado das escolhas que tinha feito.

–  Será que alguma vez foste realmente feliz, ou apenas sonhaste que poderias ser feliz?

Olhou para os quatro cantos da sala para (re)confirmar que estava sozinha e sem quer assumir que aquelas palavras descreviam a sua vida.

Na escuridão da sala percebeu que estava realmente sozinha e teve que se render à evidência das escolhas que a levaram até à solidão de que agora tanto reclamava. Teresa tinha sonhado que era amada pelo que fazia e por isso exigiu a si mesma toda aquela escravidão que fez com que o marido tivesse tempo de sobra para se afastar dela. Deixou de ter sonhos seus para satisfazer os sonhos dos outros, até ao dia que entendeu que não fazia parte desses sonhos, que eles viviam longe dos seus olhos.

E agora, a dois dias do final de mais um ano, continuava ali sozinha, uma esposa abandonada e uma mãe atirada ao esquecimento.

Chamou por aquele voz interior que lhe gritava toda essa verdade que ela sempre tinha negado e pediu-lhe ajuda

Será que ainda tenho tempo de inverter este caminho sinuoso que própria escolhi? Será que me podes ajudar a desenhar uma nova rota para a viagem que tenho que fazer durante o próximo ano?

Teresa não queria encontrar os culpados, apenas queria ter de volta o seu sorriso com sabor a felicidade. Queria voltar a sentir a alegria de viver sem ter que culpar a vida pela dor que lhe ardia no peito.

Está tudo em ti! O que precisas para voltar a sorrir está dentro de ti. Ajuda-te e não procures ajuda nos outros. Vive a tua vida e não querias viver a vida dos outros.

Teresa sorriu para si mesma! Percebeu que não existem culpados para os nossos sofrimentos e tão-somente escolhas erradas que vamos fazendo ao longo da vida ser que tenhamos tempo e coragem para nos questionarmos se estamos ou não a escolher o caminho certo!

Teresa tinha que voltar a viver para ter de voltar o sorriso que um dia conquistou quem com o tempo se afastou!

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