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Das razões que a razão (ainda) desconhece

Se o “direito” a atirar a primeira pedra está reservado para aquele que nunca pecou, o que poderá arremessar aquele que, dizendo-se discípulo da acção pela razão, nunca tenha agido por força de uma qualquer “lógica sem sentido”? Se a tal pedra servir o mesmo préstimo, pois que atire então a primeira, aquele que nunca agiu por impulso.

Da razão sabemos ser a capacidade humana que nos permite tirar ilações, partindo de premissas, e sobre elas formar juízos e tomar decisões (que julgamos e afirmamos!) ponderadas. Ora, se à luz desta lógica, que dizemos racional, as possíveis causas e consequências de todas as situações que nos propomos viver são cuidadosamente filtradas pelo crivo da razão, não há qualquer margem para agirmos de forma injustificado. Correcto?

Se do comportamento humano se pudesse dizer ser uma ciência exacta, talvez. Porém, o facto é que está muito longe de poder ser analisado e justificado através de um método recto e finito.

Ao longo dos séculos muitos foram os cientistas e matemáticos que reconheceram que há coisas que estão fora do alcance da razão, deitando assim por terra a convicção de que as disputas científicas são exclusivamente resolvidas pelos factos. Eis-nos portando no século das grandiosas e importantes inovações tecnológicas e científicas, emaranhados na derradeira constatação sobre as razões da razão, que o dito popular tão bem serve: “o que não tem remédio (ou resposta), remediado está!”. A não ser que, das tais coisas que dizemos para lá da razão, tenha a física quântica algo a dizer.

Um artigo publicado na revista Scientific American – ‘Os Seres Humanos Pensam Como Partículas Quânticas’ – dá conta de que a física quântica amplia a nossa capacidade de raciocinar de forma inesperada, chegando mesmo a sugerir que esta teoria poderá explicar melhor o comportamento humano do que a lógica clássica, que não consegue prever ou decifrar o impulso. Neste artigo, o autor, Mark Buchanan, recorre a algumas experiências para demonstrar a relação entre a forma do pensamento humano e a lógica envolvida na física quântica. Uma delas, feita no início dos anos 90 pelos psicólogos Amos Tversky e Eldar Shafir da Universidade de Princeton, consistia num jogo em que os participantes eram informados de que poderiam ganhar 200 dólares ou perder 100. Depois de jogarem a primeira vez, foi-lhes perguntado se queriam jogar novamente. Quando informados de que tinham ganho a primeira aposta (situação A), 69% dos jogadores optaram por jogar novamente. Já perante o cenário de perda (situação B), a percentagem dos que quiseram jogar mais uma vez foi de 59%. Quando não eram informados do resultado da primeira aposta (situação A ou B), apenas 36% optaram por jogar novamente. À luz da lógica clássica, a terceira probabilidade deveria ser igual à média das duas primeiras, mas isso não aconteceu. A presença simultânea de duas partes, A e B, parece ter levado a algum tipo de interferência estranha que não respeita probabilidades clássicas.

A lógica clássica é, de resto, considerada por vários investigadores como ocupando apenas uma pequena parte na mente humana. Dentre eles, o psicólogo cognitivo, Peter Gärdenfors, da Universidade de Lund, na Suécia, garante que grande parte do nosso pensamento opera num nível bastante inconsciente, onde o pensamento segue uma lógica menos restritiva e forma associações soltas entre os conceitos, associações tão elementares quanto as partículas quânticas. Se assim for, podemos inferir que o inconsciente está mais presente no nosso dia-a-dia do que à partida seria aceitável pelas “regras” da razão? Seremos seres mais impulsivos do que racionais? E a razão, o que terá a “dizer” sobre isso?

“O último esforço da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam”, Blaise Pascal, Filósofo e Matemático do sec. XVII.

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