Chegamos ao final do ano e à última crónica de 2014. O momento é sempre (ou deveria ser) de reflexão sobre os meses que passámos, compreender para onde nos dirigimos, o que crescemos e quais os próximos passos. Esta crónica tem sido, ao longo das suas 45 semanas, contando com esta crónica, um espaço de reflexão do nosso país, da sociedade e do mundo, através dos temas que fizeram manchete, durante aqueles dias. No entanto, num mundo em mudança, também este espaço está a mudar. Por isso, decidi torná-la, como o título da última, mais humana, mas isso ficará para o próximo ano.
Comecei por referir que este é um momento de reflexão, ou assim deveria ser. Nas últimas semanas, por diversas circunstâncias, tenho ido a centros comerciais, essencialmente para jantar, e o que tenho visto é uma loucura de enchentes de pessoas naquele velho hábito das compras, que sempre me fez confusão. Queixamo-nos da falta de dinheiro, da falta de trabalho, da falta de tudo e mais alguma coisa, mas continuamos a viver pelo velho preconceito social do “ter de levar qualquer coisa para parecer bem”.
O Natal deveria ser uma época de amor e partilha, não uma época de aparências e de avaliação das prendas alheias. Enchemos mesas com tanta comida que ninguém come e que, tantas vezes, vai para o lixo, mas não enchemos o nosso coração de amor pelo outro, de perdão e de fé. Entregamos um presente comprado à pressa, mas esquecemo-nos de, no resto do ano, darmos um abraço, uma palavra de apreço, um sorriso. Vemos os miúdos loucos de alegria com brinquedos que vão durar uns dias, às vezes tantos brinquedos que as salas e os quartos nem têm mais espaço para eles, mas, durante os 12 meses seguintes, pouca paciência e tempo temos para eles, porque o trabalho pede demais de nós.
Que sociedade estamos nós a criar, há tantas e tantas décadas, que dá mais importância a um objecto do que a um sentimento? Talvez seja, acima de tudo, o momento de largarmos os velhos hábitos e renová-los para algo mais sincero, para algo mais genuíno. A época pode ser de ofertas, claro, é sempre tão bom ver a alegria de quem recebe, mas que seja algo de coração, pois, quando assim é, o retorno que temos é muito superior a qualquer presente que possamos receber.
No final de mais um ano, que possamos também ter o discernimento de compreender por que calçadas andámos a caminhar, que trilhos percorremos, e entregarmo-nos a mais um ano, a mais um desafio (brevemente irá sair um artigo sobre o próximo ano, estejam atentos) para crescermos e podermos ser realmente felizes.