Da Prensa ao Píxel: Uma Jornada pela História da Desinformação

Na era da informação rápida, somos constantemente bombardeados por uma infinidade de notícias e informações. No entanto, nem tudo o que é apresentado como verdade é realmente verídico. Como distinguir entre o que é real e o que é falso no meio deste mar de desinformação?

Desde os primórdios dos tempos, até à atualidade, a desinformação tem sido uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles que buscam influenciar e controlar as massas. Podemos, inclusive, afirmar perentoriamente que a desinformação germinou do mesmo ventre, e no mesmo momento em que nasceu a comunicação, como irmãos gémeos deturpados. Como o bem e o mal.

No Império Romano, por exemplo, líderes políticos recorriam inúmeras vezes a falsas narrativas para justificar as suas ações e solidificar o seu poder.

Na Idade Média, a desinformação era frequentemente disseminada através de boatos e lendas urbanas, muitas vezes alimentadas por superstição e ignorância. Por exemplo, durante a Peste Negra, rumores sobre envenenamento de poços e conspirações judaicas espalharam-se, levando a perseguições sanguinárias contra comunidades inocentes.

Avançando no tempo até 1662, conseguimos percecionar o efeito catastrófico da mentira e desinformação em Salém, Massachusetts, onde, sob falsas acusações e manipulação dos eventos, foram julgadas e executadas diversas mulheres da comunidade em questão.

Da mesma forma, durante as Guerras Mundiais, eram utilizadas propagandas manipuladoras para mobilizar o apoio público e demonizar o inimigo, ou seja, Salém, uma vez mais.

Um exemplo marcante das fake news em contexto de guerra, foi a campanha de desinformação que precedeu a invasão do Iraque em 2003, onde a existência de armas de destruição maciça foi forjada para justificar a guerra, a qual, como todos nos lembramos, levou à morte injustificável de milhares de civis.

Além disso, ao longo da história, vimos inúmeros exemplos de manipulação de votos através da disseminação de informações falsas. Durante as eleições, informações distorcidas ou falsas são frequentemente espalhadas para influenciar a opinião pública e manipular o resultado das votações, minando assim a integridade do processo democrático. Hoje em dia, com a existência das redes sociais, este fenómeno é cada vez mais rápido, e atinge um número gigântico de pessoas.

É importante notar que muitas vezes a desinformação também é alimentada pelo ego. Indivíduos que buscam reconhecimento, poder ou influência podem envolver-se na disseminação de informações falsas para promover os seus próprios interesses pessoais, sem considerar as consequências para a sociedade na totalidade. Imaginemos aqui lideres de cultos, como foi, por exemplo, Jim Jones, o qual com desinformação e manipulação levou a sua comunidade ao suicídio.

No mundo presente, a propagação de fake news atingiu dimensões alarmantes.

Todos nós temos presente na memória todo o falatório em torno da COVID-19, todas as teorias sobre a origem do vírus e a eficácia das vacinas espalharam-se rapidamente nas redes sociais, causando danos à saúde pública, minando os esforços de contenção, e conseguindo descredibilizar até mesmo a própria OMS. Este é o verdadeiro poder, e o verdadeiro perigo da desinformação.  

As causas da desinformação, essas, são diversas. Podem passar pela polarização política, ganância financeira e, até mesmo, algoritmos de recomendação de conteúdo que incentivam a propagação de informações sensacionalistas, e aqui, nesta parte específica, vimos a desinformação a ser uma mestra nas artes da sociologia, ao saber como fazer o povo acreditar nas mentiras que espalha. Geralmente com sensacionalismos, e conversas de café elevadas à proporção global através da ‘internet’.

As consequências, por sua vez, são devastadoras. A divisão social, a desconfiança nas instituições democráticas, os riscos na saúde pública (recordem-se, que atualmente, devido a boatos sobre a vacinação, existem doenças que ressuscitaram, e outras que haviam abrandado, ganham terreno.).

Para enfrentar este desafio, é crucial promover a literacia mediática e o pensamento crítico desde cedo, responsabilizar as plataformas de comunicação social, motores de busca e, até mesmo a imprensa, por conteúdos falsos, e incentivar uma cultura de verificação da informação. Somente assim podemos proteger-nos contra os perigos da desinformação e preservar a integridade da nossa sociedade.

Lembrem-se, quando buscamos a verdade neste mundo de mentiras, não é porque alguém diz o que acreditamos ser verdadeiro, que o torna verídico. É importante preservar conhecimento através dos tempos, contudo, temos que preservar apenas conhecimento verdadeiro, e não aquele baseado em desinformação, histeria e manipulação. É importante conseguir descascar a informação até lhe extrairmos apenas e somente a verdade.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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Comments 9
  1. Aterrador. Vamos vivendo sem pensar muito nisso. Interessante é que ontem uma pessoa com formação superior, na casa dos trinta anos, informada, me falou de uma óbvia “fake news”, com o ar de quem achava que, afinal, talvez, quem sabe… Excelente artigo. Assunto atual.

  2. Excelente. Não sei se alguma vez teremos essa literacia, pois o afã do lucro, da fama e o sensacionalismo levam a melhor!

  3. Belo artigo! Pessoalmente quando não tenho pelo menos 99% da informação correta, fecho a boca ou limito a escrita, há brincadeiras que ultrapassam os limites do bom senso.

  4. Artigo pertinente e necessário. É urgente nos protegermos da desinformação, pois as consequências são nefastas. E, sim, é verdade que a forma como somos bombardeados pelas notícias diariamente, não ajuda no discernimento entre o verídico e o fictício. Excelente partilha!

  5. Infelizmente, um tema muito atual e pertinente que nos afeta a todos. Parabéns Carlos Palmito pela crónica e temática escolhida.

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