Preparava-me para desenhar algo étnico para as paredes de um café cujo dono é da América Latina. Deparei-me com alguma dificuldade inicial em interpretar a mitologia ou em recriar os trajes típicos. Essa inercia inicial deu origem a um desconforto, passados alguns dias. Nada saía. Percebi que não deveria desenhar a caricatura que temos de quem é estrangeiro, mas sim lhes devia algo próprio de um ambiente doméstico, onde se desfruta a comida, o convívio, as estórias, e tornar ainda mais confortável o espaço para o qual me convidam como se fosse a minha própria casa.
Penso na imagem que desenvolvemos sobre o estrangeiro, como algo diferente que admiramos ou menosprezamos. Muitas vezes ambos. Esquecemo-nos de ver o outro como alguém mais parecido do que diferente. Esquecemo-nos de estabelecer elos antes de sublinhar e apontar aquilo em que divergimos. Talvez antecipando esses valores comuns fosse mais fácil.