Quando se trata de avançar com um projecto, as opções parecem óbvias: pede-se um empréstimo, uma subvenção, ou a ajuda de familiares, ou amigos. No entanto, ainda existem os famosos porquinhos de barro que podem dar uma ajuda no investimento. Eles são um mealheiro e uma solução para aqueles que não seguem as três primeiras opções, mas quem contribui encher a barriga do porquinho? Então, se os desconhecidos também pudessem dar uma ajuda? Hoje, todos podem ajudar, desde familiares a desconhecidos. O financiamento colaborativo, através da Internet, é a nova moda de angariação de fundos para avançar com um projecto.
A esta alternativa de financiamento colectivo dá-se o nome de crowdfunding. A ideia é envolver inúmeros desconhecidos dispostos a financiar projectos, através de plataformas online. O empreendedor começa por explicar, através de um vídeo e/ou texto, o seu projecto, referindo o que quer fazer, qual o montante mínimo que precisa e qual o tempo de angariação de fundos e depois todos os que quiserem podem colaborar. No entanto, aqui a regra base parece ser a do tudo ou nada, pois se no prazo estabelecido não for arrecadado o valor mínimo estabelecido, o dinheiro investido será devolvido aos investidores e nenhum será para o empreendedor. Caso contrário, se for atingido o valor, o projecto recebe o financiamento. É assim que se tornam realidade projectos de cariz social, cultural, ou empresarial que não teriam apoios, ou financiamento de outra forma.
Em Portugal, desde do surgimento do crowdfunding, em 2011, as plataformas já angariaram cerca de um milhão de euros e, através da maior plataforma de financiamento colaborativo online nacional, a PPL, já foram angariados mais de 500 mil euros para apoiar 170 projectos, de acordo com um dos seus fundadores, Yoann Nesme. Estes valores, ainda que reduzidos comparando com o mercado norte-americano, mostram que já um elevado número de projectos avançou, captando os fundos necessários para a sua execução, através das plataformas portuguesas.
Contudo e apesar da progressão do crowdfunding em território português, ainda há um desconhecimento por parte dos portugueses sobre o conceito. “Mais de 90% das pessoas não sabe o que é o crowdfunding e nas empresas, que são os grandes potenciais interessados, talvez o desconhecimento ainda seja maior”, referiu o director-geral da MarkUp, uma empresa que promove projectos de crowdfunding em Portugal, Victor Ruivo. Além disso, o financiamento colaborativo encontra vários obstáculos no país, entre eles as dificuldades em utilizar as plataformas e os pagamentos online, bem como o sentimento de insegurança sobre o destino do dinheiro por parte dos utilizadores.
Mesmo assim, muitos são os projectos culturais, sociais e desportivos que têm vindo a ser financiados, através de crowdfunding em Portugal. A banda portuguesa de rock alternativo, Blasted Mechanism, também optou por esta via para angariar fundos para o seu novo álbum e para criar novo material cénico e fatos para os concertos. Os seis elementos da banda contaram com a ajuda dos seus fãs e o projecto, que tinha um custo de oito mil euros, tornou-se num dos mais recentes casos de sucesso financiado através do crowdfunding. Já o filme Por Ela não teve tanta sorte com a recolha de fundos. O filme escrito por Nuno Markl originalmente seria financiado pelo público, por via do crowdfunding, mas tal não foi possível. A recolha de fundos, que começou em Março, tinha como objectivo angariar, em 45 dias, o maior valor já pedido em Portugal: 100 mil euros. Nos 45 dias, foram alcançados 40 mil euros – um recorde de dinheiro angariado na PPL – mas todo o dinheiro acabou por ser devolvido aos investidores, já que o valor mínimo estabelecido não foi alcançado. O projecto não conseguiu arrecadar dinheiro desta forma, mas, mesmo assim, o filme vai tornar-se realidade, recorrendo a outras vias de financiamento.
[youtube id=”zIXltrRSLUc” width=”620″ height=”360″]
No entanto, o mundo do cinema não se associa ao conceito de crowdfunding só em Portugal. Recentemente, o filme Verónica Mars tornou-se num dos maiores exemplos sobre o alcance e impacto do crowdfunding no mundo contemporâneo. A ideia era adaptar a série de televisão, cancelada em 2007, ao cinema depois de uma recolha de fundos online. Então, o criador da série, Rob Thomas, lançou, em Março de 2013, um projecto para a realização do filme, por meio de uma plataforma de crowdfunding, o Kickstarter. O valor mínimo estabelecido, que era de dois milhões de dólares, foi alcançado em menos de dez horas, tornando-se num sucesso estrondoso e imediato. Contudo, este valor, considerado baixo para uma produção de um longa-metragem como aquela, filmada na Califórnia e com um grande número de atores envolvidos, começou a levantar suspeitas. Mais tarde, Rob Thomas afirmou que a detentora dos direitos da série, Warner, estava envolvida em todo o processo. Visto que o crowdfunding está associado à produção cultural independente, que consequências advêm da sua utilização por parte de um estúdio bilionário? A associação do filme a esta forma de financiamento trouxe-lhe uma maior visibilidade e fez com que Verónica Mars se tornasse num símbolo muito maior do que a série havia sido, acabando por se tornar numa eficaz estratégia de marketing.
Hoje, o crowdfunding é uma opção de financiamento, uma ajuda aos empreendedores que não conseguiriam avançar com a sua ideia recorrendo a canais tradicionais, como os bancos. É através da apresentação dos projectos em plataformas de crowdfunding que uma ideia ganha vida, com a ajuda da comunidade. Assim, nascem novos projectos e abrem-se possibilidades nunca antes vistas para aqueles que querem apostar nas suas ideias. Porém, num mundo em que o crowdfunding se está a desenvolver, ainda são muitos os que não o conhecem e muitas as possibilidades que só agora começam a ser exploradas.