Certamente já terá ouvido alguém dizer, com mais ou menos razão, “ah… é porque eu sou um overthinker…”
Mas o que é isso de ser um overthinker?
Um overthinker é uma pessoa que “pensa excessivamente”, ou seja, é alguém que vive perdido no labirinto dos seus pensamentos, escrutinando cada caminho possível, cada cruzamento, cada cenário possível; mergulhando num vertiginoso oceano de possibilidades do pensamento. Muitas delas serão sempre e apenas isso: possibilidade do pensamento e não factos ocorridos na vida real.
Claro que o que denota uma incrível capacidade analítica e de minúcia, é também aquilo que revela um processo psicológico complexo, muitas vezes ansiogénico, que pode ser paralisador. Isto porque quando pretendemos equacionar toda e qualquer variável num mundo infinitamente complexo, estamos a tornar a missão de viver nele incrivelmente difícil de concretizar.
Se se identifica com esta descrição, onde identifica alguém que lhe próximo, saiba que não estão sozinhos. Muitas pessoas vivem assoberbadas pelo seu próprio pensamento, por vezes, exaustas do modo como observam e analisam cada acontecimento, casa estímulo e até cada pensamento, sentimento, sensação.
Esta aparente destreza cognitiva, representa, no mais das vezes, uma necessidade de avaliar tudo o que se passa em volta da pessoa e no seu interior, deixando-a completamente paralisada nesse processo.
É natural e muito comum que um overthinker – um pensador excessivo – se sinta extremamente ansioso já que, como podemos compreender, é bastante difícil manter a calma quando não conseguimos olhar para vida, com olhos sucintos, objetivos, agregadores e com algum pragmatismo.
Imagine alguém que é um pensador excessivo a avaliar infinitas possibilidades perante a necessidade de tomar decisões; a decisão pode ser o destino de férias, ou a busca de um novo trabalho, ou a necessidade de pedir o divórcio. Qualquer que seja a magnitude da decisão, ela “obriga” a este escrutínio infinito – ruminações –, que é desgastante, que é extenuante, contribuindo para um cansaço extremo, um sentimento de esgotamento mental e eventualmente físico e, como já está a pensar, a uma indecisão quase inultrapassável.
É a isto que chamo “pensar demais”: quando o exercício cognitivo de análise das circunstâncias, prejudica em vez de auxiliar as necessidades daquele que se dedica a pensar excessivamente.
Nos casos mais marcados, estas pessoas podem perder-se verdadeiramente num processo de questionamento interior que as faz duvidar de si mesmas, das suas capacidades e das suas tomadas de decisão, nos mais pequenos detalhes, e em tudo. Isto não é uma mente pensante, é um território de guerra, uma frente de batalha, onde aquele que rumina, sairá sempre perdedor pelo fato de ficar preso na sua própria teia de pensamentos.
Nesta fase, o overthinker pode já demonstrar sinais óbvios de mal-estar emocional. É frequente, como disse que esta torrente de pensamentos gere grande ansiedade. E, pelo facto, de contribuir para muitas dúvidas acerca de si mesmo e exaustão, este tipo de funcionamento é também um território bastante propício a sintomas depressivos, quebra de autoestima, autocrítica marcada, e autoexigência exagerada (o que só vai aumentar os sentimentos de frustração e de desvalorização pessoal).
Isto, consequentemente, pode dificultar que se desenvolvam e evoluam, que aproveitem novas oportunidades ou, simplesmente, que completem sem elevado sofrimento projetos que têm em mãos.
Os principais sinais de que estamos na presença de um overthinker são: a tendência para rever mentalmente e vezes sem conta conversas e situações passadas, preocupação excessiva com o futuro, indecisão persistente, dificuldade em estar “enraizado”, ou seja, em estar no presente em estado de relaxamento, perfecionismo e pensamento demasiado veloz, queixas físicas como cefaleias de tensão (as típicas “dores de cabeça de stress”), dores de estômago, distúrbios gastrointestinais (associados a stress e não a qualquer condição de doença).

Reparem no que diz o M:
Acho que é assim uma espécie de ressaca. Passei muitos meses a desenvolver este projeto, sempre focado nele… quase obsessivamente… tinha de estar perfeito, e depois quando acabou também não me conseguia desligar dele, encontrar outro ritmo de trabalho. Acho que é por isso que não me sinto propriamente animada, pelo contrário.
Sinto um grande desânimo. Nenhuma vontade de fazer nada. Sei que vai passar. Acaba sempre por passar, a bem ou mal. Mas que estou assim, estou…
Sei que tenho uma capacidade fora do normal para não conseguir tirar grandes proveitos das minhas conquistas… sofro muito e depois fico sempre a sentir que não foi assim tão incrível, porque nunca foi perfeito…
M. A.
Então como nos livramos deste problema da existência que é pensar demasiado?
Depois de ler isto, julgo que já terá umas pistas.
Primeiro que tudo é importante desenvolver estratégias que o ajudem a sentir o seu pensamento menos flutuante, ajudá-lo a concentrar a sua atenção plenamente no momento presente – naquilo que estiver a ser o seu desafio em cada momento específico, sem antecipar o futuro, sem querer “estar uns passos à frente”. As terapias cognitivas de terceira geração – sim, a meditação! – elas ajudam muito neste desenvolvimento. Terá de ser persistente, como acontece em muitas áreas de vida, os resultados não são imediatos, mas prometo que quando levada a sério, é uma estratégia muito competente.
Para além disso, pode precisar de (ajuda a) desconstruir as suas expectativas e as suas ideias face a si mesmo e ao seu lugar no mundo. É importante perceber qual o papel do perfecionismo na sua vida, assim como perceber eventuais estratégias de controlo que possam ser inconvenientes na sua vida, por reforçarem a necessidade de excessiva ponderação e introspeção desmedida.
Muitas vezes, as temáticas de controlo e perfecionismo estão associadas a crenças negativas acerca de si próprio. Procure melhorar o seu autoconhecimento e a sua percepção de si mesmo.
Liberte-se do labirinto!