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Crise de valores

Álvaro de Campos escreveu, um dia, que “ser novo é não ser velho. Ser velho é ter opiniões. Ser novo é não querer saber de opiniões para nada. Ser novo é deixar os outros ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más — boas ou más, que a gente nunca sabe com quais é que vai para o Diabo.” Não consigo, por mais que tente, concordar com isto. Entendo que o intuito do escritor fosse retratar a inocência dos jovens, mas discordo totalmente da utilidade dessa inocência. A meu ver, a inocência só assenta bem às crianças. Os jovens devem ter espírito crítico, opiniões próprias e devem, sobretudo, saber refutar as opiniões dos outros e estar receptivo a elas.

O grande problema dos jovens actualmente é a falta de espírito crítico e de responsabilidade perante a vida e os assuntos importantes que dizem respeito à sociedade. Os nossos jovens olham com indiferença para assuntos e, quando decidem comentá-los, fazem-no sem se terem informado previamente. Há uma enorme falta de capacidade de raciocínio e um desinteresse assustador pelo que se passa à nossa volta.

No entanto, este não é o único problema dos jovens. Vivemos, actualmente, uma crise de valores na juventude, que, infelizmente, se vai fazer sentir quando estes jovens forem adultos. Para um jovem de 14 anos (salvo raríssimas excepções, que merecem a minha mais profunda admiração), nos dias de hoje, é mais importante parecer do que ser. Parecer que é rico é mais importante do que sê-lo. Parecer que tem consolas topo de gama é mais importante do que tê-las. Parecer que tem positiva às disciplinas é mais importante do que, realmente, transitar para o ano seguinte. A nova geração de teenagers é a geração do “parecer”.

Aliada a esta necessidade de ostentar ter algo que, na verdade, nem sempre se tem, vem o desprezo pelas coisas realmente importantes. A família passa a ser um mero acessório na vida destes adolescentes, o bom aproveitamento escolar não é importante, a escola é uma seca, os professores são uns “cotas chatos”, os trabalhos de casa são inúteis, o respeito pelo outro é uma burocracia e o futuro é uma incógnita que, como as equações difíceis com que são confrontados nas aulas de Matemática, não querem resolver.

De quem é a culpa? Dos pais. Defenderei sempre esta ideia, porque considero que os pais são os pilares fundamentais da educação de qualquer cidadão. Se é verdade que, em alguns casos, pessoas com pais incompetentes no seu papel conseguiram ser bons cidadãos e bons seres humanos, também é verdade que, salvo essas raras excepções, maus pais dão origem, indiscutivelmente, a maus filhos e a más pessoas.

Defendo esta ideia porque a minha experiência me diz que bons cidadãos têm na sua formação bons educadores – pais, avós, encarregados de educação independentemente do grau de parentesco. Crianças que têm tudo o que querem e que nunca ouviram um não, que não foram educadas para o respeito pelo outro e para a importância da escola, serão, decerto, adolescentes irresponsáveis, mimados e sem valores.

Estes jovens são – e assusta-me dizê-lo – o futuro e são eles que vão dar origem ao futuro do futuro, educando os seus descendentes da mesma forma que foram educados. E, se o futuro for este, vou-me já embora daqui.

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