Copenhaga: uma cidade silenciosa

Segunda-feira e o mais belo cartão de visita

Silêncio ao fim da tarde: o enquadramento mais bonito que podemos desejar para emoldurar as fotografias que, na calma crepuscular, reflectem um lugar por onde passeamos sem ouvir mais do que a água a correr nos canais e as campainhas das bicicletas a afastar os turistas do caminho. O Tivoli, no centro da cidade, lembra as feiras populares de antigamente.

O bairro latino – onde ficamos a dormir – é central e tem na vida boémia e numa javardeira contida um certo encanto. Conseguimos almoçar e jantar por quinze euros e ao final da noite (pouco depois das dez…) encontramos uma cave ao virar da esquina que serve um café que nos sabe pela vida.

O picadeiro real e o Palácio de Christianborg.

Terça-feira refugiámo-nos do dilúvio na “terra do arco-íris”

A chuva que foi massacrando o andar e ensopando a roupa não nos demoveu de ir ver a sereia, uma daquelas inutilidades que “tem de ser”. No entanto, no porto, tal como na sereia, São Pedro presenteou-nos com abertas para que pelo menos as fotografias pudessem sair secas.

Christiania, um mundo colorido na semana LGBT em Copenhaga, uma entrada na Twilight Zone onde não pude fotografar a rua mais característica (só depois percebi que as tendas vendiam um cardápio de opiáceos mais completo do que a garrafeira do Cimas).

As entradas nos monumentos são gratuitas e os museus baratos: pelo menos o do Âmbar, e é pequeno como todos os museus deveriam ser.

Os dinamarqueses andam pela chuva como nós estendemos a toalha na praia. Os mais picuinhas abrem o chapéu. Chinelos, bicicletas, calções e mini-saias a chover a cântaros. Contrastes.

Christiania, um mundo de ganzas, hippies e javardeira que, passada a fronteira do marginal, se tornou um ícone.

Quarta-feira a navegar pela história de várias épocas

As vilas medievais da Europa central e do norte como Roskilde… é no contraste entre o hábito e a novidade, e não somente na beleza intrínseca do que vemos, que encontramos dentro de nós aquele lugar onde nos admiramos. No Museu Viking o melhor espaço é o lounge onde, em silêncio, observamos a clareira de água que dá para o Báltico (ou para o Mar do Norte?) e que me lembra os lagos isolados que servem de cenário aos crimes no cinema (penso n’A Dama do Lago de Chandler). Há qualquer coisa com o sentir em silêncio o mar com ares de lago…

Navegar, remar, velejar: uma experiência.

Em tempo de férias, o andar pela rua é diferente do de todos os dias: a cabeça levantada para observar e o corpo relaxado sobre os passos que o balançam.

Nunca antes estive tão a norte.

O Tivoli embala-nos na magia de uma viagem ao passado, um parque de diversões no centro de Copenhaga onde o cair da noite se confunde com os sons e as luzes de décadas, as décadas em que estas atracções faziam as delícias da geração dos meus pais ou dos meus avós. Uma experiência sem preço.

Roskilde e o mais belo cenário.

Quinta-feira e o regresso da chuva ou a sorte que nós temos

Uma hora a passear de barco pelos canais de Copenhaga mostrou-me como somos privilegiados. Ver a cidade de outra prespectiva é visitar outro lugar; é como percorrer uma estrada em sentido contrário.

O telhado inclinado da incineradora é uma pista de ski no Inverno e a bandeira da Dinamarca é a mais antiga do mundo (faz este ano oitocentos anos): foi esta toda a cultura que adquiri a navegar pela cidade.

O café-expresso é tão amargo que voltei a disfrutar do prazer de beber um café de filtro depois de o deixar arrefecer uns minutos ao frio de uma esplanada.

O único museu que me interessava em Copenhaga, o Museu Erótico, fechou em 2009: cheguei dez anos atrasado! No entanto, o Museu da Guerra valeu a pena. Não é bem a mesma coisa mas também nos deu um certo prazer. A Torre Redonda foi uma agradável surpresa com que nos cruzámos a caminho do almoço.

À tarde voltou a chuva e a noite terminou novamente no concerto da Pride Week com uma irritante chuva de Agosto… uma onda de calor na Europa que dura o Verão inteiro e tínhamos que acertar na semana invernosa!

No Tivoli está aquela magia de viajar no tempo. Talvez por não esperar se converteu num dos lugares mais memoráveis.

Sexta-feira – Um café em Malmo

A ponte sobre o Báltico por onde deslizámos no comboio, de Copenhaga para Malmo, compõe uma viagem bonita.

Os parques que a chuva não nos deixou ver em Copenhaga, visitámo-los em Malmo. E que ideia esta de fazer de um cemitério um bonito jardim onde se descansa, almoça, lê e brinca! O Vítor foi para a sauna enquanto eu, a Patrícia e a Amélia explorámos a cidade, mais barata do que Copenhaga, e que me trouxe o café mais “só me apetece desfrutar este instante” de toda a viagem até ao momento.

Também por Malmo circulam bicicletas com o habitáculo à frente: uma espécie de side car da II Guerra em jeitos de front car que tanto transporta as compras do supermercado como os bebés.

O moinho e os parques em torno da ilha do Castelo de Malmo são fantásticos, tal como o Slottsträdgardens Kafé. Chamar-lhe Castelo é um manifesto acto de boa vontade.

Hoje foi a noite das Drags da Pride Week mas o espírito já não estava para grandes festas.

Tal como em Copenhaga, também Malmo tem zonas serpenteadas por canais.

Ensinamentos desta viagem: Nem as dinamarquesas são tão giras quanto a ideia que delas eu fazia aqui no Sul, nem Copenhaga é uma cidade tão mais limpa do que Lisboa.

Conclusão: A famosa felicidade dinamarquesa – Hygge – nem sempre se aplica aos países latinos, do Sul, que têm uma matriz histórica, cultural e social muito distinta da dos países nórdicos. Tentar colar em Portugal o que me parece ser uma felicidade insipida, dificilmente teria sucesso. Eles que fiquem com o Hygge que nos por cá ficamos com o vinho, o chouriço e o queijo, o bom tempo e as esplanadas ao fim da tarde em qualquer altura do ano.

Eu, o Vitor, a Patrícia e a Amélia.

Copenhaga (o último dia foi escrito em Lisboa), de 13 a 17 de Agosto de 2019

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