Sofria em crescendo num silêncio agitado sem entender nem conseguir sair daquele ciclo de dor. Pensava muito nos outros, talvez demasiado, atendendo aos seus apelos e necessidades (…).
Decidi cuidar de mim, pois além de tudo o mais merecia. Assim expressei o meu valor, pedindo ajuda como fazia noutras circunstâncias da minha vida.
Como iniciei a minha curei? Foi a nossa ligação mais do que as técnicas, especialidades ou meditações. Reencontrei uma capacidade sensível que se expressava numa vontade em acolher. Estava comigo em cada passo sem julgar ou deixar escapar alguma parte do que sou ou quisera ser.
Foi o renovado modo de estar, de falar, de olhar e de ouvir que me despertou. Estávamos em sintonia. Era algo naturalmente espontâneo como quando me olhava ao espelho ou contemplava o imenso horizonte da minha existência, real e imaginada, incluindo os meus sonhos e amores.
Era uma presença que sentia comigo com bondade. Despertava o meu melhor: o que eu sou. O modo genuíno de estar promoveu e fortaleceu o nosso vínculo, que se assumiu como um suporte fundamental para nós. De tal modo que fui reaprendendo a ser assim para os outros e para mim.
Compreendia e colaborava. Era sintonia de sentidos numa envolvência tocante de emoções como numa dança. Movia-me com segurança, validação e apoio. O foco era o meu melhor. O pacto era cuidar de mim e dos meus relacionamentos. Assim, de um modo consciente fui reconstruindo a minha experiência, aceitando-a como a sentia num cuidado tranquilo.
Percebo agora a importância de partilhar o sofrimento de alguém que chora, ou de brincar com quem sorri de pura felicidade, depois de ter aprendido a abraçar a dor, cuidando-a com amor sem juízo nem desvalor.
Reaprendo a maravilha de deixar partir ideias e convicções, de criar abertura e espaço para mim e para o outro, valorizando o sentir e as narrativas simbólicas do mais e menos conhecido. Abraço a alegria e a dor. Com delicadeza genuína vejo o despertar no outro o melhor de si. Tudo isto por sentir, sem pesos nem medidas, apenas o que sou com todo o seu valor e esplendor.
Poderão chamar-lhe empatia, eu diria antes ser um modo genuíno, sábio e humilde de viver, que promove para si e para o outro o seu melhor.
Era sintonia de sentidos numa envolvência tocante de emoções como numa dança. Sentia segurança, validação e apoio.