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Com os miúdos, também é preciso falar sobre dinheiro

A temática da Literacia Financeira está cada vez mais presente junto da população. Em Portugal, não é exceção. A Intrum publicou os resultados do mais recente White Paper, o Barómetro Bem-Estar Financeiro 2022, que permite uma visão rápida sobre a capacidade relativa dos consumidores europeus de 24 países, para equilibrar os seus rendimentos e despesas mensais, pagar as contas domésticas nos prazos estabelecidos e poupar uma parte do salário mensal para o futuro. Portugal encontra-se em 6º lugar no ranking. No top três de países com maior nível de literacia financeira surge a Finlândia (1º lugar), Suécia (2º lugar) e Irlanda (3º lugar).

Contudo, num mundo cada vez mais tecnológico, é cada vez mais comum o movimento do dinheiro através de aplicações digitais, e menos frequente a experiência com o dinheiro em mão. Perante esta tendência, questionamo-nos se os desafios em torno da educação financeira das crianças tornar-se-ão mais rigorosos. O Repórter Sombra falou com uma especialista na matéria. Dulce Forte é cofundadora da Associação para o Desenvolvimento Economia Solidária e Sustentável (AESS); Cofundadora da Associação Internacionalização e Inteligência Económica (AIIE) e manager da DSolutions Consulting and Training. Em resposta a esta questão, Dulce frisou que “ (…) os desafios da educação financeira das crianças são cada vez mais exigentes no mundo digital, porque ao termos dinheiro físico “sentimos“ que ele existe e que o gastamos. Ou seja, quando temos uma moeda na mão ao fazer uma compra ficamos sem ele e temos essa perceção. No mundo digital cria-se a sensação de que o dinheiro é infinito, quando na verdade ele é finito”, começa por explicar.

Fotógrafo: Joaquim Morgado (Colorshop Empresarial)

Sensibilizar os mais pequenos para o valor do dinheiro é, por isso, elementar. “Com ou sem dinheiro na mão, se não o soubermos gerir desde a infância, na vida adulta vamos sofrer as consequências.”

Não existe uma definição única e universal para o conceito de Literacia Financeira. Porém, este parece tornar-se cada vez mais amplo, passando da simples gestão do dinheiro para a inclusão de conhecimentos e competências da área financeira, em geral. E este termo urge ser introduzido no quotidiano das crianças. “Ensinar uma criança a gerir o seu dinheiro vai criar um cidadão financeiramente saudável, isto é, alguém que usa o dinheiro para satisfazer as suas necessidades e os seus desejos e não o contrário, isto é, alguém que se deixa usar pelo dinheiro e passa os dias a fazer contas à vida”, refere Dulce Forte.

“Se ensinamos às crianças temas como reciclar e separar lixo porque não lhes devemos ensinar a “separar“ o dinheiro consoante as funções a que o destinam?

Conversar sobre os rendimentos, as despesas, como é que se ganha ou como é que se gasta são temas que devem ser abordados em contexto familiar. No entanto, servirá apenas de exemplo se o bom exemplo vier de casa, assim é o pressuposto. “Já me aconteceu entrar numa sala do ensino profissional e um jovem dos seus 17 anos me dizer que “eu faço gestão do meu dinheiro mas a minha família não“ por isso o exemplo nem sempre vem de quem deveria vir.”

Na prática, o que devem e não devem os educadores fazer para que possam ser e não ser um bom exemplo? Dentro das ações positivas, “Planear, criar um orçamento, definir prioridades, saber distinguir as necessidades básicas que têm de ser satisfeitas no imediato (alimentação, habitação, educação e saúde), dos desejos que podem e devem ser planeados e para os quais devemos aprender a esperar.” Por outro lado, os pais não devem comprar por impulso nem recorrer a crédito sempre que querem comprar algo que não está previsto no orçamento nem faz parte das prioridades”, alerta.

Importa realçar que falar sobre este tema é diferente conforme as idades. Neste sentido, a AESS tem ao dispor um workshop para pais, denominado “Como criar Filhos Financeiramente Saudáveis.”

De uma forma resumida, até aos 4 anos, “ensinamos a ter paciência e a saber esperar.” A fase dos 6 aos 8 “é quando as crianças começam a ter uma semanada e, por isso, há que lhes ensinar a cuidarem do seu dinheiro e a tomar boas decisões na hora de o gastar.” Aos 12 “devem passar a receber uma mesada porque o dimensionar de quanto dinheiro precisam para um mês é um passo importante.” Chegados à idade adulta, “é também importante transmitir conhecimentos sobre o sistema financeiro (banca e seguros) para que saibam como abrir uma conta, usar um cartão de crédito ou de débito, entre outros.”

O consumismo infantil proveniente das atividades diárias, as pressões sociais e as festividades durante o ano, com as prendas a tomarem o rosto desses eventos, existe sempre a expectativa criada em torno do brinquedo desejado. Uma das melhores formas de trabalhar os conceitos com as crianças é com exemplos. “Quando as crianças me dizem que o mais importante quando os pais vão às compras é comprar o jogo que eles querem, em vez da carne ou peixe, eu, fingindo concordar, passo para a fase seguinte, dizendo que o jantar nesse dia vai ser jogo com batatas fritas. Eles começam por olhar para mim, surpreendidos, e depois percebem a brincadeira e a importância das boas decisões”, exemplifica.

“Ensinar a gerir o “não” é muito importante para que percebam porque não podem ter tudo o que desejam para que isso não lhes cause frustrações na vida adulta. Só valoriza um “sim” quem já recebeu um “não” e no futuro esta aprendizagem vai ser muito importante.”

No mercado existem recursos didáticos interessantes, como jogos, filmes, livros etc. que podem ser uma excelente ferramenta para ajudar as crianças a aprender a gerir as finanças pessoais. Existem também programas sobre o tema, como o “Todos Contam”, que abrange todas as áreas do sistema financeiro e pode ser aplicado a todas as idades. Na secção da literatura infantil, uma boa aposta é o livro “Curso de como Gerir o meu Dinheiro” que pode fazer  download e consultar as primeiras páginas do livro.

Capa do livro

A AESS iniciou a sua atividade em 2013. Através da parceria no projeto “É TEMPO” foi possível utilizar nas suas intervenções, o método das 4 funções: Guardar, Poupar, Dar e Gastar. Com este método, o objetivo foi ensinar às crianças a olhar para o dinheiro e dividi-lo nestas funções adequadas. Posteriormente, em 2015, surgiu o livro “Curso de como Gerir o meu Dinheiro”, destinado a crianças dos 6 aos 12 anos de idade. “Neste livro é possível as crianças aprenderem o método que trabalhamos nas sessões e com a ajuda do mesmo, criarem o seu próprio mealheiro com base nas funções que ensinamos. O livro tem sido muito bem aceite porque as crianças gostam da forma como lhes é transmitida a informação. Da parte dos pais também tem havido uma boa aceitação do mesmo porque lhes permite trabalharem com os filhos o tema da gestão do dinheiro de forma criativa e até divertida.”

Falar sobre como se ganha dinheiro, o custo do que se consome ou mostrar, na prática, como gerir uma mesada simplifica a que os valores sejam assimilados. Tudo na dose certa e com a linguagem adequada a cada faixa etária. Por detrás do êxito deste livro, está a própria autora, Rita Vilela.

Rita Vilela

Ao Repórter Sombra, Rita Vilela explicou como desenvolveu o seu processo de escrita para este projeto. “Quando o objetivo de um livro é transmitir uma mensagem ou aprendizagem, o primeiro passo para um escritor é apropriar-se do conhecimento a transmitir, para o poder comunicar de forma simples e acessível.”

O segundo passo é criar a história. “Gosto muito de comunicar por metáforas, muitos dos meus livros infantis (e não só) são livros de metáforas, em que crio histórias que levam à interiorização das mensagens pretendidas.”

Neste livro em concreto, “o conhecimento a transmitir era mais rico, uma metáfora simples não bastava, era necessário que a criança se apropriasse de um processo, por isso fui buscar a “Maria” e os “cursos do Jardim Zoológico”, esclarece.

Contextualizando, a personagem Maria e o enquadramento dos conteúdos sob a forma de um curso surgiram há alguns anos, em resposta a um outro desafio da autora: criar uma peça de teatro sobre o medo, a representar no jardim Zoológico de Lisboa. O texto deu origem ao livro “Curso de coragem para meninos com medo”, em que a Maria aprende, com diversos animais do Zoo, regras essenciais para gerir o seu medo.

No livro seguinte, “Curso de defesa contra bactérias más”, é adicionado o personagem Afonso, o primo de Maria, um rapaz muito díspar dela, facilitando a identificação de diferentes tipos de leitores com as personagens, promovendo uma maior adesão à história.

“No livro em questão, a Maria volta a surgir ao lado do Afonso. Partindo do problema “o que fazer com o dinheiro que a tia da Maria lhe ofereceu no aniversário”, os dois vão frequentar um novo curso em que irão aprender, com diferentes animais, um conjunto de regras a ter em conta na utilização do dinheiro.” Podemos ler, na obra, a “Regra da coruja – O dinheiro não dá para tudo… Vais ter de escolher como o queres usar. Gerir dinheiro é decidir o que fazer com ele”, ou a “Regra do caracol – Se queres decidir bem, decide com calma.”

Através de uma forma suave e divertida, os leitores mais novos aprenderão com os dois primos, “ (…) a decidir, a organizar, a utilizar melhor o seu dinheiro e tal como eles (esperamos) irão colocar em prática aquilo que aprenderam”, finaliza.

Deixamos-lhe uma sugestão: da próxima vez que oferecer dinheiro a uma criança, ofereça também o “livro de instruções”, o “Curso de como gerir o meu dinheiro.”

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