Chove na rua da minha cidade

Ontem foi Dia Mundial da Poesia… o meu país é um país de poetas, de bons poetas, de grandes poetas, de desmesuradamente brilhantes poetas, que não caberiam aqui, de muitos já olvidados, de outros sempre recordados, e é com um incessante prazer o sentimento que me ocupa desde sempre, amar a poesia, como se dela fosse filha, que resolvi comemorar convosco com um poema meu, de data já esquecida no baú bafiento das memórias perdidas.

 

Poesia

Chove na rua da minha cidade

não flores, nem estrelas

porque já não se dão.

Os homens toscos da minha terra

têm vergonha da claridade

de mostrar o que sentem

 

Chove na rua da minha cidade

como se chovesse do espaço, a terra,

no cultivo de amores-perfeitos

na cidade cinzenta de mar maior

 

Poesia2

Chove na rua da minha cidade

apaga o burburinho das almas

ficam os pingos a bater lá fora

em caravelas de música mareando

Poesia3

Chove na rua da minha cidade

pedrinhas de gelo doutra vida

Quimeras da Primavera

mágoa de não saber do Sol

 

Andará perdido, cansado

pelos trilhos enviusados

das ruas da sua cidade

noutro astro talvez.

Poesia4

Chove na rua da minha cidade
e não é mais a água
pura de outros tempos
precipita-se enquanto corrói ainda

sonho sentir o azul do céu
Poesia5

Chove na rua da minha cidade
e eu, tão somente talhada
ditam-me as palavras

do infinito desdém
tal como as chovem
percorrendo-me
o corpo enxuto
do frio hirto deste Inverno.

Chove na rua da minha cidade
todos saberão dizer de onde vêm as gotas

Correm como o sangue

Que se me esvai nas veias
Sabes dizer-me qual a terra frutífera
para onde poderei partir?

Poesia6

Que chova nas ruas da minha cidade

onde os homens serão homens

e as mulheres, femininas

se poderão amar sem medo

sem mentira, sem desejos vãos

como a face de quem dorme

parar de corroer serenamente

a poesia do amor.

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