Em 2009, Neill Blomkamp actualizou a sua curta-metragem, Alive in Joburg, para uma longa-metragem de baixo-orçamento, mas que, apesar dessa limitação, não escondia a sua espectacularidade. Sob tiques de qualquer blockbuster, ou dos mais espalhafatosos filmes de ficção científica, esse District 9 resultou num êxito, quer de público, quer de bilheteira e até mesmo de linguagem cinematográfica, consolidando o espectáculo cinematográfico despretensioso com a crítica de inserção social da África do Sul. Tal como um gaio, tudo que brilha Hollywood “apanha” e Blomkamp mudou-se, assim, para um grande estúdio, tendo à sua disposição um orçamento mais vantajoso para incutir Elysium. Filme, esse, protagonizado por Matt Damon, que remetia aos mesmos lugares que o anterior District 9 havia percorrido, mas este não era o Blomkamp de District 9 e sim uma versão adulterada, demasiado limpa e presa às convicções do próprio estúdio, que constantemente estudavam as tendências do mercado.
Eis que então chega Chappie, o filme que tem sido apontado como o menos consensual da sua carreira e talvez com uma certa razão. Tudo o que vemos nesta sua nova obra, mais uma distopia científica ambientada no seu habitat natural, ou seja, a capital sul-africana Joanesburgo. É um revisitar dos mesmos dilemas que o género tem recolocado ultimamente e até mesmo a crítica do cineasta à inserção social e à luta de classes é novamente mencionada, mas recorridos sobre o parâmetro do videoclipe. Pois bem, Blomkamp recupera a tendência do vídeo musical, desta vez enraizada sob um particular gosto.

Não é por acaso que Yo-Landi e Ninja, dois membros da célebre banda sul-africana Die Antwoord, protagonizam o filme, contagiando todo o visual com o estilo único e, por vezes, exagerado da mesma. A verdade é que por mais incrível que pareça, os dois músicos não envergonham ninguém na categoria das interpretações, mas aqui outra verdade deve ser dita, Blomkamp não se preocupou com prestações, sendo que todas as personagens que possui, principalmente o robô-protagonista Chappie, são unidimensionais e estereotipadas ao seu meio. Nem Hugh Jackman, como um vilão de cariz religioso (curioso que o homem chega a benzer-se a meio do filme), Devil Patel, ou Sigourney Weaver transportam o filme para um nível mais transversal. No entanto, mesmo assim a fita consegue adquirir o seu “quê” emocional.
Essa mesma emoção é transmitida através das suas imagens, altamente manipuladas ao som da respectiva banda sonora, em conjunto com os seus simbolismos morais e maniqueístas. Todos esses elementos são facilmente perceptíveis para as audiências mais jovens, deparadas com uma linguagem traçada do dialecto do videojogo, ou das referências estampadas na cultura Pop. Não esperem encontrar aqui algo digno de Isaac Asimov, mas sim um certo trash à lá Robocop, “estilizado”, porém, não contido como foi o caso de Elysium.
Diverte? Se desligarmos o cérebro e a nossa ambição por profundidade quanto ao material exposto, até poderemos ter a nossa mercê um entretenimento passageiro e acima de tudo estilisticamente contagiante. Se caso não o conseguirmos fazer, a sala ao lado poderá ser a mais indicada. Sim, devemos incluir este produto no lote dos “guilty pleasure“!
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