Chan Marshall: este é o nome da cantora e compositora norte-americana que a maioria do público conhece como Cat Power. Já lá vão cerca de vinte anos desde o lançamento do seu primeiro álbum de estúdio – Dear Sir -, mas, mesmo assim, em 2012 pudemos ouvir um novo trabalho da artista, que ainda não se cansou dos palcos. Sun é o nome do seu mais recente disco e o público português terá a oportunidade de o ir (re)conhecer às salas de espectáculos, em Lisboa e no Porto(a 31 de Outubro, no CCB, e a 1 de Novembro, no Hard Club, respectivamente).
Para Marshall, Sun parece representar como que uma espécie de renascimento. Isto não significa que se trata de um álbum soberbo, até porque, pelo menos melodicamente, não é esse o caso, mas significa que ouvimos, agora, uma Cat Power revigorada e reerguida, mais sábia na composição e renovada na forma de fazer sons.
Estamos, certamente, habituados a uma Cat Power mais melodiosa, como em The Greatest ou em You Are Free. Gostamos dessa versão, porque, associada à sua suavidade vocal, sempre esteve um temperamento muito imprevisível e desconcertante. Contudo, podemos dizer que este seu “sol” vem trazer algo de novo ao seu repertório e à sua postura; algo que, claramente, a fez sentir-se mais plena e completa enquanto artista.
Sun chega-nos como um manifesto. Talvez, por isso, seja um disco arrebatador do ponto de vista da escrita: cada canção parece que foi feita e versada com um propósito – espiritual ou prático – totalmente definido. Aliás, são poucas as faixas (talvez, até nenhuma) que parecem não carregar uma qualquer mensagem subliminar de reivindicação, ou, paradoxalmente, de desleixo perante a vida. “Human Being” reclama o direito de sentir – «you got a right to scream» -, “Peace and Love” reclama o direito a querer vencer – «peace and love is a famous generation, I’m a lover but I’m in it to win» -, “Nothing but time” reclama a vontade de viver – «you wanna live». Simultaneamente, ouvimos faixas que são, antes, umdesejo de morfina, como que a pedir uma dormência face à sua existência. Em “Manhattan” – uma das canções mais bem conseguidas do álbum, juntamente com “3, 6, 9” -, Marshall canta «don’t look at the moon tonight, You’ll never be Manhattan». Em “Real Life”, diz «real life is ordinary, Sometimes you don’t wanna live”; e em “3, 6, 9”, no refrão, escreveu «you drink wine, monkey on your back, you feel ust fine”.
Conclusões? Sun é um disco mais identitário do que melodicamente altruísta. Ao mesmo tempo, é liricamente abismal. E escrever assim não é tarefa fácil. Ouvi-lo é ganhar tempo.