Há pessoas que enchem uma sala. Que quando entram, algo no tempo e no espaço parece parar. Há também aquelas que, quando conhecemos sentimos uma profunda empatia e, apercebemo-nos arrebatados por encantamento, que aquela pessoa que acabámos de conhecer tem algo de especial, encantador e se nos perguntarem nem sabemos bem o que é, a não ser que o sentimento é geral a todos os presentes.
Questionamo-nos, até com uma pontinha de inveja boa, se também somos assim ou se alguma vez seremos, com essa capacidade inata e irritante de se encantar e arrebatar os outros como quem não se apercebe. Se somos assim tão carismáticos. Será que se aprende?
O carisma, um dos dons de Deus atribuído a quem aspira seguir e servir o Divino ou a capacidade de seduzir, encantar e fascinar o outro. Estudado, apreendido e cobiçado por políticos, no mundo cooperativo ou por quem trabalha com as grandes massas. Essencial num mundo competitivo e questionável se é inato ou se pode ser aprendido.
Importa saber que carisma é algo que nos diferencia e nos destaca no meio dos demais. Que nos torna inesquecíveis e especiais. Que assim as nossas ideias, os nossos objectivos e as nossas opiniões têm mais impacto e são certamente escutadas e com grande possibilidade de serem seguidas.
Em teatro, aprende-se a ter presença em palco, para que se possa passar ao público as nossas personagens com maior credibilidade. As gueixas adquirem a hábil capacidade de ao passarem não o fazerem despercebidas. Existem centenas de workshops e livros com técnicas, muitas delas válidas sobre comportamento, que a médio prazo nos leva a nos destacarmos no meio dos demais.
Contudo, o que talvez mais importe não seja tanto o facto de sermos carismáticos, mas, se o formos, o que faremos com esse dom? Escutaremos os outros com atenção e mostramos que de facto nos preocupamos ou tentaremos construir uma imagem popular, magnética e social nos meios onde nos movemos? Agiremos em equipa para que a empresa onde trabalhamos cresça ou tentaremos destacarmo-nos em prejuízo dos colegas? Ajudaremos quem nos segue ao contarmos como sobrevivemos a uma determinada tragédia ou faremos com que nos sigam no extermínio de uma etnia?
No fundo, o verdadeiro segredo do carismático é o que ele faz consigo e com os outros. É amar-se a si próprio o suficiente para que emita um bem-estar e uma segurança tão fortes, que os outros se sintam inspirados. É importar-se que os outros estejam tão bem como ele, para que se sintam seguros na sua presença. E acrescentar a todos, inclusive desconhecidos, um sorriso franco.
Talvez, de facto, haja algo de divino em ser-se carismático. Sem dúvida todos nós nos movemos uns com os outros através do fascínio e do encanto. Que não tenhamos medo do nosso próprio poder e encantamento. Com respeito, sempre.