Captain Marvel

Existe uma grande expectativa no sucesso de “Captain Marvel”. Não só é o primeiro filme com uma mulher no papel principal a ser feito no Marvel Cinematic Universe, mas também será a personagem principal de um franchise que irá entrar numa nova fase, após o próximo filme dos Vingadores. Carol Danvers (Brie Larson) tem sido designada a personagem mais forte do MCU e o grande reforço para a batalha final contra Thanos em “Avengers: Endgame”. Um fardo pesado que o filme carrega nos seus ombros com leveza, preferindo focar-se mais numa história íntima sobre identidade e descoberta do próprio poder pessoal.

Começamos por conhecê-la como Vers, uma amnésica guerreira da Força Estelar, uma equipa de elite dos Kree, e Brie Larson dá à futura Capitã Marvel, desde o primeiro minuto, uma forte sensação de carácter e personalidade, mesmo quando não se lembra de quem é. O seu crescimento ao longo do filme, desde que descobre que outrora fora Carol Danvers até que acaba por aceitar a sua antiga identidade, segue um caminho diferente do que é tradicionalmente utilizado pela Marvel para dar uma origem aos seus heróis. A história é construída em torno da revelação de que a vida de Carol lhe foi roubada e que tem de ser forte o suficiente para reconquistá-la.

Este tipo de narrativa pode parecer forçada, mas com a direcção de Anna Boden e Ryan Fleck, “Captain Marvel” voa a novas alturas. Está repleta de pequenos ajustes à fórmula MCU, reduzindo nos impulsos mais sarcásticos para dar lugar a uma história mais confiante, heroica e intrigante, que tem como pano de fundo a Guerra Kree-Skrull, um evento bem conhecido pelos leitores dos comics da Marvel. As referências ao resto do universo cinematográfico são bastantes, mas nunca em número suficiente para se tornarem distrativas, e até a forma como esta história se insere na grande narrativa que é o MCU é feita de pequenos pormenores que resultam bastante bem.

O filme não seria o mesmo sem a poderosa interpretação de Brie Larson, que é apoiada por um impressionante elenco secundário liderado por Samuel L. Jackson e Clark Gregg, que voltam a vestir a pele de Nick Fury e Phil Coulson, mas numa versão mais jovem, mais feliz dos agentes da S.H.I.E.L.D. que conhecemos. Neste cenário de 1995, Fury não é o cínico director de uma agência de espionagem preocupado com uma miríade de ameaças globais. Em vez disso, é um operacional que fica perplexo com a sequência de eventos em que se vê envolvido. É com ele que nos rimos mais, apesar de nunca perder as qualidades que fazem de Fury a personagem cativante que tanto adoramos.

Como Talos, comandante dos extraterrestres transmorfos Skulls, Ben Mendelsohn é tanto assustador como encantador e Annette Bening veste na perfeição um papel com uma complexa dualidade. Contudo, a MVP do filme é Lashanna Lynch, no papel da antiga melhor amiga de Carol, Maria Rambeau. É quem tem as melhores falas e tem arco narrativo muito bem construído, sendo a sua relação com Carol o que nos permite ter uma ligação emocional à história.

Apesar dos realizadores não terem nenhuma experiência na criação de um blockbuster, o filme não o demonstra em momento algum – com boas coreografias nas cenas de luta e efeitos especiais incríveis. A batalha final, então, é sensacional de se ver e tem um dos melhores finais mais gratificantes de todos os filmes da MCU.

Captain Marvel” não é tematicamente tão profunda como “Black Panther” ou tão excêntrico como “Guardians of the Galaxy”, mas é possivelmente o melhor exemplo actual da forma como a fórmula Marvel ainda consegue criar filmes com uma sincera exploração das suas personagens e uma história cativante. Este filme encaixa perfeitamente no tom de todos os filmes MCU já feitos, enquanto continua a ser uma história sobre alguém que tenta compreender os seus poderes e ultrapassar as limitações que os outros lhe colocam. Se “Captain Marvel” indica de alguma forma qual o caminho que o Marvel Cinematic Universe irá seguir de futuro, então, tenho a certeza de que esse mesmo futuro está em boas mãos.

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