Depois de “abatida” a Edison Trust (Motion Picture Patents Company), o selo de aprovação e de confiança com a produção cinematográfica norte-americana da altura (1908 – 1918), os grandes estúdios da costa oeste desafiaram a própria concepção produtiva com um simples factor: a tecnologia. Ainda hoje éa mesma vertente tecnológica que difere e muito as “grandes produções” (os chamados blockbusters) e as produções mais independentes, cujos limitados recursos financeiros eram propícios aos efeitos práticos e a alternativas decisões de produção. Em 1927, um dos grandes estúdios da referida costa, a Warner Bros, venceu um dos maiores obstáculos do cinema de época, o Som.
Foi o ano do Jazz Singer (O Cantor de Jazz, de Alan Crosland), o filme que colocou o cinema a “falar” e iniciou uma nova era, os “talkies“. Os diálogos e as músicas não eram novidade no cinema pós-Jazz Singer, mas tal elemento só era possível com instrumentos tocados em acompanhamento com a projecção (no caso da banda sonora, oudo elemento musical), ou no caso da “voz”, através de dobragens directas efectuadas pelos actores, durante as exibições. A grande novidade de Jazz Singer foi o uso de som sincronizado, gravado separadamente em discos de acetato, mas tocado em simultâneo.
Todo este “next big thing” causou impulso na exploração e dedicação por parte dos estúdios rivais na tecnologia sonora, de forma a combater o êxito de Jazz Singer, estrondoso na época. Contudo, não foi apenas o sonoro, o elemento avançado e sofisticado pelos grandes estúdios, o visual também teve parte importante nessa “guerra”, nomeadamente a primeira incursão do Techincolor, respondendo à coloração dos frames e criado assim os vulgarmente chamados “filmes coloridos”.
Outra vertente que serviu de duelo entre os diversos grandes estúdios da costa oeste, foram os actores, o apelidado star system que conduzia multidões ao cinema somente para ver a sua “cara predilecta” em acção. Muitos dos estúdios especializaram em criar futuras estrelas, apostando nas suas imagens e categorizando-as aos diferentes géneros. Por exemplo,Marilyn Monroe era a favorita para as comédias românticas, Humphrey Bogart para filmes de teor noir, ou de aventuras e mais tarde John Wayne para o subgénero western.
Aliás, foi com o star system e o constante estudo pelo gosto da audiênciaslevaram à criação dos géneros cinematográficos, uma forma de organizar e direccionar público, ao mesmo tempoque acelerou a produção, através de fórmulas, ou modelos padronizados. Para cada género, era comum encontrar realizadores específicos, conduzidos por produtores magnatas e por um processo produtivo muito firme, rígido e severamente concentrado. Aqui os realizadores não tinham a relevância de outrora, aliás, foi com David Wark Griffith (1875 – 1948) que a ideia da importância do realizador no filme foi debatida pela primeira vez, mas actualmente olhamos para essa época e contemplamos alguns “génios desconsiderados”, de Alfred Hitchcock a John Ford, de Frank Capra a Billy Wilder.
Como dever ter percebido toda esta legião de estúdios da costa oeste formam uma “comunidade” que ainda hoje conhecemos como Hollywood, a “fábrica dos sonhos e das oportunidades“. Os anos 20 a 50, foram marcados pela sua idade de ouro, o apogeu. A sua eventual queda surgiu com a decadência de produtores magnatas que sustentavam os pilares da produção hollywoodesca, muitos deles abatidos pelas consequências financeiras e sociais da Segunda Guerra Mundial e pelo aparecimento da televisão, que levou a uma descida tremenda da ida aos cinemas. Porém, foi com surgimento do pequeno ecrã que o cinema norte-americano teve que adaptar-se a um nova geração de audiências.
(continua …)