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Black Mirror

A série da Netflix “Black Mirror” é um exemplo supremo de fantasia televisiva contemporânea. É difícil pensar noutro qualquer espetáculo moderno que seja de constante imprevisibilidade, esteticamente realizado, estilisticamente eclético e de certa maneira perturbador.

Com mais de 19 episódios independentes divididos em quatro temporadas, “Black Mirror” incorpora com perfeição os limites do género – ficção científica, terror, suspense e sátira misturam-se.

Contudo, apesar do sentido eclético do género, “Black Mirror” é unido pelo tema da tecnologia digital. O nome do programa em si refere-se a um telefone desligado, televisão ou qualquer um dos outros dispositivos que dominam as nossas vidas. Procura identificar as mudanças radicais que a tecnologia digital trouxe e levá-las à sua conclusão lógica.

Assim como a ficção científica pioneira do século XIX incorporou as descobertas científicas e a tecnologia da revolução industrial, “Black Mirror” leva a nossa experiência contemporânea da revolução digital a possíveis projeções do futuro.

Porém, o último episódio ultrapassou tudo aquilo que “Black Mirror” já fez.

Quem nunca se perguntou a si mesmo o que é que aconteceria se tivesse feito as coisas de outra forma? E se as decisões tomadas fossem diferentes em momentos-chave da sua vida? E as pequenas decisões? Em que é que elas influenciam a nossa vida? Por que tomamos estas decisões, por vezes tão estranhas, que viram a nossa vida do avesso?

São estas questões que compõem o espectro filosófico de “Black Mirror: Bandersnatch” — o novo episódio de “Black Mirror” lançado na Netflix. O enredo de “Bandersnatch” é um labirinto que o próprio espectador resolve (e em partes participa diretamente), tomando as decisões de vida de Stefan Butler, um jovem programador de videojogos que está sujeito à nossa vontade, assim na Terra como na Netflix. Se é que a fronteira entre ambos não está já demasiado diluída. Esta é também uma forma efetiva de combater a pirataria, uma vez que o espectador precisa da aplicação da Netflix para poder intervir nas decisões de Stefan.

Stefan é filho único, órfão de mãe e isso é um fantasma que o persegue. A história segue-o na missão impossível de, em poucos meses, adaptar o livro “Bandersnatch” a um jogo de 48k. “Bandersnatch” é uma obra de Jerome F. Davies, um génio que enlouqueceu e decapitou a mulher, convencido de que tinha perdido o controlo das suas próprias ações.

“Bandersnatch” suga-nos para o seu próprio universo, com uma caracterização nada menos que sublime. A série passa-se em 1984, na cidade de Londres e conta com múltiplas referências à cultura de então.

O enredo é um labirinto que o próprio telespectador resolve, tomando as decisões de vida de Stefan, que está submetido à nossa vontade. A primeira vez que se percorre o labirinto de “Bandersnatch” é como uma viagem fascinante de descoberta, mas, como todos os labirintos, também “Bandersnatch” tem os seus becos sem saída. Quando nos decidimos a saltar da janela, somos convidados a voltar para trás.

Numa das iterações, é-nos dada a hipótese de explicar a Stefan que o estamos a controlar a partir do futuro, numa plataforma interativa chamada Netflix, para nosso próprio entretimento.

Podemos sempre corrigir as coisas e tentar que o Stefan tenha melhor sorte em mais uma iteração. A repetição é uma figura de estilo fundamental neste episódio de “Black Mirror”. É uma ferramenta eficaz para a exploração do universo de “Bandersnatch”.

O melhor do ano ficou guardado para o fim. “Black Mirror: Bandersnatch” é mais um triunfo monumental de uma das melhores séries do século XXI e um aperitivo do que vem aí num futuro não muito distante. A única questão é saber se “Bandersnatch” é o melhor episódio do ano, o melhor filme do ano, ou o que quer que isto seja, porque penso que não há ainda uma categoria para isto. Único é o único adjetivo que encontro para poder descrever esta criação de Charlie Brooker.

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