“Para o ano de 2023, o Governo português definiu um aumento de 5% na comparticipação financeira de todas as respostas sociais. Além disso, haverá atualização dos montantes do abono de família para crianças e jovens, do abono de família pré-natal, do subsídio de funeral, da bonificação por deficiência, do subsídio por assistência de terceira pessoa, e reforço das majorações do abono de família nas situações de monoparentalidade.”
Quando li na Internet este trecho pensei duas coisas: o Governo está a dar mais e as pessoas estão a viver pior. Uma é consequência da outra. No entanto, sabemos que os ciclos financeiros são isso mesmo, ciclos, e que as medidas dependem de quem faz a política naquele determinado momento.
Acerca disto lembrei-me de uma conversa a que assisti entre dois amigos meus. Um deles vive com a namorada e não tem despesas a seu cargo, pois ambos estudam e essa parte ainda está delegada aos pais. O outro já é casado e tem filhos e, por isso, tem de pagar as suas próprias despesas. Os meus dois amigos nasceram no mesmo meio social com, praticamente, as mesmas regalias, mas, neste momento, existe uma grande diferença entre eles: o peso da responsabilidade. Esse é o lugar que pode influenciar a forma como cada um tece opiniões sobre cidadania. Enquanto eles conversavam percebi que quem estava num lugar de privilégio tinha uma posição menos flexível do que quem já tinha contas a seu cargo.
Foi uma conversa acesa e que só terminou, quando um confrontou o outro com a sua regalia. Na minha mente ficou a pairar a seguinte frase: “Se eu não tiver dinheiro, não vivo, tu vives.” A verdade é que o dinheiro é todo igual, mas não é igual para todos. Sabemos que os apoios sociais são necessários e que visam combater uma necessidade, mas da minha parte não consigo encontrar uma posição estanque. Não são poucos os dias em que tenho conhecimento de casos em que penso que o apoio dado a esta pessoa é, de certa forma, injusto, ou, por outro lado, de casos em que penso que o Estado deveria fazer mais.
Afinal, o que é ser desfavorecido? Em que medida é que as acções tomadas são justas do ponto de vista de todas as classes socioeconómicas? O facto é que quem faz estas medidas não se baseia em necessidades específicas, tem de pensar numa larga escala. É nessa amplitude que se perde, muitas vezes, o foco. As políticas sociais não se podem fazer do individual para o geral, mas um olhar sobre o que é o individual ajuda na decisão. Um exemplo disto: Eu faço os horários dos transportes públicos, mas não uso transportes públicos. Conseguirei eu combater todas as variáveis? Ou seria necessário ter essa experiência ainda que ela fosse meramente por estudo?
Pensar em medidas sociais numa larga escala é difícil, mas a probabilidade de quem pensa nelas necessitar delas é baixa. Por conseguinte, existe sempre um cunho pessoal em qualquer que seja a nossa forma de agir. Dito isto serão sempre duas as faces da mesma moeda. O essencial, no meio disto tudo, é entendermos que a vida dos outros é diferente da nossa.