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Antónia Rodrigues, o terror dos mouros

Antónia nasceu numa família de gente pobre e humilde, a 5 de Dezembro de 1572. Pessoas de Aveiro, fora da muralha, estavam ligados ao rio e o pai Simão, pescador, fazia o que podia. A mãe Leonor cuidava da casa e dos filhos.

Antónia, desde cedo mostrou um espírito bem rebelde e, por volta dos doze anos, a mãe enviou-a para casa de uma irmã, já casada, que vivia em Lisboa.

A sua função seria a lida da casa, mas tal não lhe agradava. Fugia de casa, mas acabava por voltar. Tudo aquilo era desprezível para ela que queria andar nos barcos e conhecer o mundo.

Um dia fugiu de vez. Vendeu as suas roupas, cortou os seus belos cabelos negros e comprou um fato de marujo usado. Disfarçou as suas formas e foi apresentar-se ao capitão de um navio.

Como queria andar embarcada até prescindiu do salário. A princípio o homem não mostrou qualquer tipo de interesse, mas, quando provou as suas sopas, ficou logo conquistado.

Rapidamente António, o nome que teve forçosamente de usar, mostrou uma grande habilidade para os nós, as cordas, as velas e a vida a bordo. Trepava como ninguém. As suas artimanhas afinal tinham funcionado.

Chegados a Mazagão, despediu-se do capitão e alistou-se no exército, na infantaria local. A sua coragem nas armas era bem notada e eficaz. Soube de um ataque que os mouros tinham em mente e, através de uma estratégia certa, conseguiu dominá-los com facilidade. Ganhou o respeito de todos e passou a ser o ” terror dos mouros “.

Curiosamente, Antónia deveria ter cerca de quatorze anos quando começou a dar nas vistas. Esta é a rapariga que não gostava das tarefas domésticas e que queria ser algo mais que uma das muitas mulheres anónimas. Tendo isso em mente passou para a cavalaria.

Nunca desconfiaram do seu género. Partilhava todas as actividades e dormia muito tapada. Mantinha as rotinas militares e o seu desempenho era o melhor. Os mouros tinham-lhe um certo respeito, mas essencialmente medo.

O Rodrigues começou a chamar a atenção. Era um herói, destemido, corajoso e enfrentava quem lhe fizesse frente. Essa valentia fazia suspirar as donzelas e criar inúmeras paixões.

Uma dessas donzelas, a filha do governador, sente um amor tão profundo por António que cai à cama. O seu pai, de forma a resolver o assunto, propõe o casamento a Rodrigues, o que seria um negócio muito rentável naquela época.

Antónia, perante a ameaça de ser descoberta, acaba por confessar que tal não será possível por ser uma mulher. Decidida a enfrentar a justiça militar, humilha-se, mas o que sucede é o seu oposto.

A sua grande valentia bem como a coragem são enaltecidas, louvadas e tornadas pública. Passa a vestir-se como mulher e vai viver para casa de um seu camarada. Mas aqui há um pequeno segredo, estava apaixonada.

Beatriz Menezes, a filha de Diogo de Mendonça, o governador, teria de encontrar outro alvo pois a situação não era benéfica para ambas. A admiração ainda se tornou maior.

Todos queriam conhecer Antónia, a mulher sem medo que aterrorizava os mouros. Mas ela preferiu ficar no anonimato. Em 1603 casa-se com o homem da sua vida, um camarada de armas.

Os seus bons serviços foram reconhecidos e, por isso, recebeu uma certidão. Nada podia negar o sucedido. Muda-se para Lisboa para aproveitar a fama. Fica viúva e com um filho.

No ano de 1619, D. Filipe II mostrou interesse em conhecer a personagem lendária. Fez do seu filho Moço da Real Câmara e cedeu-lhes algumas mercês, duzentos cruzados para ajudas de custo, quatro alqueires de trigo por mês e aumento da tença anual para quinze mil reis.

Para tal, teria de se mudar para Madrid. Ali viveu sem sobressaltos e com tudo a que tinha direito. Com a morte do rei regressa a Portugal e perde-se o seu percurso. Talvez tenha sido essa a sua ideia. Antónia Rodrigues, uma rapariga pobre, teve a ousadia de ir até onde quis, de fazer o que lhe dava na gana e, acima de tudo, de ser feliz. A vida de miséria que lhe estava destinada não a satisfez e, com engenho e arte, soube ir muito mais além.

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