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Afinal as camisolas de marca… também têm caralhotas!

Campanhas e mais campanhas. A publicidade colou-se aos nossos dias, qual coisa pegajosa. Conseguiremos imaginar um mundo sem outdoors, sem anúncios de rádio ou televisão? Com seria abrir uma revista ou um jornal, que não tivesse marcas, em quase todas as páginas? E se no cinema não te obrigassem a ‘comer’ longos minutos de propaganda comercial, antes do tão desejado filme e das pipocas?

As marcas saltam-nos ao caminho, a cada esquina, em cada reta. Os comboios pintam-se de campanhas assertivas. Rostos bonitos de sorrisos perfeitos, embrulhados em melodias emotivas, prometem-nos o paraíso.

Confesso, que estou com enorme dificuldade em imaginar a nossa existência sem esta invasão publicitária. Mas ok, vou continuar a tentar…e talvez, lá para os lados da minha infância…sim, agora percebo, como tudo se desenvolveu a uma velocidade de gazela (calma, não é alusão a nenhuma bebida alcoólica).

Marcas e mais marcas, à conquista de um lugar ao sol. Marcas e mais marcas, sequiosas de milhões. Milhões de clientes e muitos, muitos milhões de lucros. Uma máquina diabólica, que tenta trucidar, a simplicidade de que era feita a vida das gentes. Há um Big Brother à espreita e não tentem escapar-lhe. Serão sempre descobertos.

Já repararam como as grandes marcas de vestuário e acessórios, apostam cada vez mais em novas coleções? Já não temos só as coleções de outono/inverno e primavera/verão. A estratégia é, criar artificialmente, motivos para lançar algo novo e assim criar uma ‘nova’ necessidade no consumidor. Os dias da Mãe e do Pai, foram instrumentalizados ao serviço dos grandes grupos. Temos o dia da criança, o dia dos avós e vejam o que fizeram ao dia dos namorados; perceberam como foi transformado, em mais um dia para consumir, o que não precisamos?

No meio de tudo isto, onde ficaram as necessidades básicas? Onde perdemos o consumo racional e consciente? Claro que a marcas movimentam a economia, geram riqueza, dão trabalho a muitas pessoas, mas não posso aceitar o exagero e o assédio de que estamos a ser vítimas. Somos anónimos muito desejados. Potenciais fazedores de lucros alheios.

És livre de fazer as tuas escolhas, dizem-nos a toda a hora. E seria verdade, se não fossemos constantemente empurrados para consumir o que não precisamos e até o que não desejamos. Por detrás das estratégias das marcas, estão verdadeiros quartéis de especialistas em manipulação humana. Há psicólogos até, que nos ‘possuem’ em formato de dados, para depois produzirem análises comportamentais, que servem de base, às campanhas publicitárias.

E nós lá vamos, talvez inocentemente, quero acreditar, caindo no ‘conto do vigário’.

Estamos em vésperas do dia do Pai. Repare-se nas campanhas de telemóveis. Algumas dirigem-se supostamente aos filhos. Sim, se têm o melhor Pai do mundo, então terão de lhe oferecer um modelo de última geração, sim, sim, é claro que ele merece. Mas…uma criança não tem umas largas centenas de euros, para fazer a compra, certo? Ah, ok a mamã trata do assunto!

Recordo-me de desejar muito, umas calças Lois, na minha adolescência, mais tarde, muito mais tarde, uns ténis All Star e de o meu filho, ter passado por uma fase em que só queria roupa de marcas, como a Rip Curl, Hurley, Quiksilver, Billabong e outras do género, mas foi coisa passageira. Talvez tenha simplesmente, durado o tempo exato, para percebermos que estávamos a ser manipulados!

Claro que, faço sempre questão de frisar este ponto em artigos de opinião, cada um deverá ser livre de fazer as suas escolhas, mas também de manifestar o que que pensa. Dentro do respeito que todos nos merecemos. O que nos leva, a pagar preços exorbitantes, por uma camisola de marca, para depois andarmos a exibir de peito cheio, o seu logotipo?

Quer dizer, pagamos principescamente algo e depois ainda andamos a publicitá-lo de forma gratuita?

Devemos tirar o chapéu aos departamentos de marketing, dos grandes grupos económicos? Ou somos simplesmente uns artolas?

É que, se publicitamos algo, deveríamos ser remunerados por isso, certo? Só que… não!

Nós é que pagamos.

Vejam a genialidade da marca de acessórios de moda, Bimba Y Lola.  Lançaram umas mini carteiras a tiracolo, de um tecido, aparentemente impermeável, preto, com uma tira que me parece uma espécie de elástico, onde se destaca em tamanho avantajado, e de forma repetida, o nome da marca. Quem não tem uma malita destas? Consta até, que saltavam das prateleiras, mais rapidamente que pãezinhos quentes.  O acessório é coisa para custar uma centena de euros e eu não lhe encontro piadinha nenhuma. O material é tão bom ou tão mau, como o que é usado em malas sem nome e depois aquela tira preta e branca dá-lhe um ar…sinceramente, mas ok, como disse acima a liberdade é mesmo assim. Não escrevo sobre este exemplo, para discutir gostos, o que quero trazer aqui a esta página, é mesmo a reflexão sobre o que levará tanta gente a gastar dinheiro neste objeto, de uma enorme vulgaridade e a escarrapachar-lhe a marca de maneira tão gritante. É aqui, que reside a questão. As malitas são poisadas sempre de forma estratégica, não vá alguém mais distraído, não reparar que ali há uma Bimba Y Lola. O que é isto, senão exibicionismo?

E então, de onde virá esta necessidade de mostrarmos que somos possuidores de marcas famosas?

O relógio, as calças, os sapatos, ai os sapatos… as camisas, os carros, sim, o que uma bela marca pode fazer por nós!

Hoje exibe-se tudo, até o nome do colégio onde se enfia o filho!

E os restaurantes dos chefes? Sim, sim, já lá estive, a comida? Hummm, ah, sim, então viste a foto que ‘postei’? Tens de lá ir pá! Não, não é caro, nós os dois, foi coisa para cento e cinquenta euros, vais gostar.

Acredito que por detrás deste consumismo desmedido e irracional, esteja uma necessidade de afirmação. Uma falsa necessidade criada pelas tais campanhas. Muitos acreditam, que só poderão ser aceites socialmente, se consumirem ‘boas’ marcas!

Boas não será, mas vá lá, pelo menos que sejam caras, isso sim, é fundamental para que nos olhem com respeito.

O status social precisa de ser trabalhado, há que investir nele forte e feio, e se for preciso um crédito pessoal para pagar esta luxaria toda, que venha ele!

É esta atitude, que me preocupa. Parece-me muito evidente que não são as marcas, que nos tornam mais interessantes. Que pelo menos se pare, para pensar neste assunto.

Somos o que somos e não vamos ficar gente melhor, só porque compramos caro, a sério…

Os barrigudos, continuarão a ser barrigudos mesmo com a marca da moda pendurada ao peito, ok?

Os aldrabões continuarão a sê-lo, mesmo que enfiem os pés nuns ténis de trezentos euros. Não se iludam!

A felicidade não vem dentro de uma roupa cara. Pode até criar uma ilusão de realização pessoal, é certo, mas é coisa efêmera, acreditem.

A necessidade de afirmação através das marcas, é de tal ordem, que levou ao aparecimento do material contrafeito. Não há dinheiro para comprar a Michael Kors original, sem problema, compra-se uma imitação. O que é preciso, é que os outros vejam e se roam de inveja.

E não, não é por comprarmos aquele telemóvel ‘bué’ caro e que faz muitas cenas, que tipo, vamos ser mais felizes e ter a família mais perfeita, daquelas que acordam todas as manhãs, sem exceção, sorridentes a cantar, sem remelas, penteadas e que tomam um pequeno almoço saudável, ao som dos passarinhos, com direito a bolo caseiro e sumo de fruta natural.

Por favor, não acreditem nisso.

Associa-se a qualidade, à durabilidade, à confiança e ao conforto. Mas se é de qualidade, tem de ser caro e se é caro, então é bom. Sei que existe esta associação de ideias, mas acredito que poderá estar maioritariamente errada.

Vejam a indústria da cosmética. Prometem rejuvenescimentos milagrosos, à conta de determinados princípios ativos e com esta desculpa, cobram verdadeiras fortunas pelos seus potezinhos de creme. O mulherio lá vai, carregado de esperança e de muitos euros, adquirir a poção mágica.

Sabiam que em muitos casos, a presença da tal substância, é residual e que o efeito prometido, não passa de um embuste?

Quantos litros de água são precisos para produzir uma simples T-shirt?

2700!

Quero abanar consciências, julgo que será este um caminho, para travar este consumismo, desmedido e inconsequente.

Que não se pense que as grandes marcas, são inocentes no que respeita à escravização de crianças.

Quantas plantações de algodão, geneticamente alterado na sua maioria, usam as mãos de meninos e meninas para tratar a matéria prima? E quantas fábricas em países como a India, Bangladesh, por exemplo, escravizam as suas crianças?

Não menos preocupante é a substituição da floresta autóctone, por plantações intensivas, para ‘alimentar’ esta indústria, a poluição dos cursos de água e aqui neste circuito, dissimuladas, sabemos hoje, também as tais marcas ‘caras’, estão presentes.

Sou de família remediada é certo, mas tive a sorte de vestir em criança, muitas camisolas de malha, tricotadas pelas mãos da avó Rosa. Para ela, um borboto numa malha, era…uma caralhota!

E assim cresci, tantas vezes com roupa que ‘picava’, como eu teimosamente dizia. Havia camisolas com tantos ‘picos’, que nem o pescoço eu mexia.

Lá sobrevivi, para, quem sabe, vos estar a escrever agora.

Lamento, mas as camisolas de marca, também têm caralhotas!

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