Nas últimas semanas, o Brasil tem sido o palco de múltiplas manifestações contra os gastos feitos, até agora, com a organização do Mundial de 2014, orçamento que já derrapou em milhões, e os sucessivos aumentos dos transportes púbicos. Nas ruas, o povo brasileiro reclama por um serviço público mais eficiente, que chegue a todos os cidadãos, e que o dinheiro gasto na preparação para o Mundial seja direccionado para investir na melhoria da qualidade de vida. Tomando as ruas de assalto, a voz do povo soou mais alto e a presidente, Dilma Rousseff, já garantiu que uma reforma política será feita, espelhando, assim, o poder de uma manifestação.
As raízes históricas da manifestação, como uma forma de expressão do descontentamento do povo, remontam ao século XIX impulsionadas pelos ideais de liberdade, fraternidade e igualdade preconizados na revolução liberal francesa de 1789. A noção de que se a voz popular se juntar para reivindicar os seus direitos, já existia nas sociedades clássicas, porém o conceito de manifestação, tal como o conhecemos, ganhou forma no liberalismo e no iluminismo. Alicerçado nestas correntes ideológicas, o Homem passa a ser a figura central e a sua individualidade e liberdade devem ser respeitadas pelo estado.
Assim, a revolução liberal americana e a revolução liberal francesa são fruto deste pensamento que galvanizou o mundo nos últimos quatro séculos, dando uma nova dimensão à mudança social e ao poder do povo. A herança herdada das revoluções liberais ainda, hoje, se mantém viva e bem presente na sociedade contemporânea sob a configuração política implementada pela maioria dos estados, a democracia.
É nesta defesa pelas liberdades conquistadas outrora que a vaga de manifestações a que o mundo assiste se enquadra. Se na Primavera Árabe estamos, praticamente, a presenciar as primeiras revoluções sociais contra um poder opressor e ditatorial, na sociedade ocidental a luta é contra a corrupção e a má gestão da despesa pública por parte de um estado democrata que falhou na missão de governar para o povo.
Protestos como os que temos assistido nos últimos anos são a prova que a manifestação ou os movimentos organizados de cidadãos serão sempre o motor da mudança social, pois como Abraham Lincoln afirmou os poderes do estado nunca poderão se impor ao “Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo”.