Sim, sim, hoje em dia há muitos livros que retratam experiências nos campos de concentração, mas não são todos iguais? Não são sempre más experiências com uma pitada de amor pelo meio? Bem, no meio de tantos livros que se enquadram neste cliché, há alguns que nos conseguem surpreender e A Violinista de Auchwitz surpreendeu-me e marcou-me.
O livro é baseado na inesquecível história de Alma Rosé, uma heroína improvável que nasceu com o dom da música, encantando plateias e deixando-as incrédulas com os sons que saíam do seu violino. No entanto, quando o terror de Hitler desce sobre a Europa, nem o seu pedigree musical familiar a consegue salvar dos campos de concentração. À chegada é tatuada no braço com o número 50381. E a partir desse momento Alma Rosé tem apenas um desejo – Voltar a tocar violino antes da morte, que tomava por certa.
Graças a algum reconhecimento, este seu desejo foi concedido e na noite em que Alma toca pela primeira vez, as suas companheiras de bloco ficam incrédulas como é que um som tão belo pode ser tocado num lugar tão feio, mesmo ao lado dos fornos crematórios. Mas Alma não era a mesma mulher naquele momento que era quando aprendera a tocar violino, o seu sorriso agora era-lhe estranho
Quando a responsável pelo campo faz de Alma a maestrina da orquestra feminina, tocando tanto para as mais altas patentes nazis como para os outros prisioneiros, Alma recusa-se, preferindo até morrer a ter de tocar para os nazis. No entanto, apercebe-se do poder que a sua posição lhe oferece – pode dar rações extra a raparigas esfomeadas, pode protegê-las e até tentar salvá-las da morte certa. Alma aprende a navegar nos meandros do campo e utiliza o seu talento para conseguir favores dos oficiais, consegue um bloco separado, com chãos de madeira para proteger os instrumentos, consegue que se deixe de tocar quer a chuva quer na neve, mas ela também era exigente, querendo o nível a que estava acostumada na sua vida anterior – até porque acreditava que se elas tocassem tão mas tão bem, então deixá-las-iam viver a todas. E elas treinavam tanto que nem tinham tempo para olhar para fora do bloco, e ver tudo o que acontecia, podiam-se concentrar na música e assim salvar-se todos os dias.
Ellie Midwood é a escritora que nos consegue transportar para o dia-a-dia em Auschwitz, e não é uma viagem fácil, porque ficamos presos, emocionalmente ligados, a estas personagens. Quando a Alma sente medo, eu senti medo. Quando a Alma sente nojo, eu senti nojo. Quando a Alma sente revolta e tristeza, eu senti revolta e tristeza. E quando a Alma sente uma réstia de esperança, eu senti uma réstia de esperança e agarrei-me ao capítulo seguinte.
Mas sim, é verdade, Alma conhece um talentoso pianista e no meio do desespero encontram uma pequena felicidade quando estão juntos, nos ensaios e até nos concertos para os comandantes nazis. Mas o surpreendente é que os oficiais respeitavam Alma, pela sua vontade em ser sempre melhor, pelas suas conquistas e pela capacidade de negociação que tinha. Mas isso era também algo que a atormentava.
Do you know what Aryan stands for, in their eyes? Ruthlessness, overachieving and blood as cold as ice under one’s skin. Mengele just told me I embody all three. He said he admired me.
Com a eminência de uma outra guerra na Europa, estas histórias ajudam-nos a perceber que todos nós podemos ser heróis, fazendo o que melhor sabemos com paixão. Alma Rosé não foi para Auschwitz para ser a heroína, Alma Rosé foi para Auschwitz porque não teve escolha, mas as escolhas que fez no campo de concentração marcaram a vida a muitas pessoas. E apesar da sua história ser triste, aqui temos vislumbres de amizade, sorrisos roubados e recados deixados como se estivessem na escola, são momentos pequenos que todos nós hoje tomamos por garantidos. Mas foram esses momentos que marcaram e é graças a esses momentos que se conhece a história de Alma Rosé, a Violinista de Auschwitz que parava de tocar se os guardas não prestassem atenção à música, porque as suas amigas, as raparigas que ela salvou, contaram a sua história.
E se por acaso quiserem saber mais, sobre a história verdadeira de Alma Rosé, então cliquem aqui.