A neve não existe só na Serra da Estrela. A freguesia de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço, inserida no Parque Nacional da Peneda-Gerês, é todos os invernos pintada pelo branco dos nevões. É certo que não tem condições para uma estância de esqui (o que não invalida as brincadeiras), mas as paisagens, a cultura, as gentes e a gastronomia fazem deste recanto do Minho um local de visita obrigatória. Não apenas nos meses mais frios.
O centro de Castro Laboreiro é caracterizado por casas praticamente unidas umas às outras, por restaurantes e casas rurais, ladeado de campos e montanhas. Em dias de neve, a imagem é ainda mais irresistível. O passeio pelas suas ruelas é convidativo. A conhecer há a igreja matriz, imóvel de interesse público, construída primitivamente no século XII, onde se encontram relíquias como uma pia baptismal da época e imagens desde o século XIV ao XVII. O pelourinho é outro dos pontos de passagem, considerado monumento nacional, e remonta ao ano de 1560.
Por norma, vê-se pouca gente. O êxodo rural é evidente. A excepção são os fins-de-semana com a invasão de dezenas de espanhóis. Fora isso, o silêncio apenas é interrompido pelo tilintar dos sinos do gado. Quem lá mora não estranha, mas quem lá vai tem inveja dessa paz.
Outra das riquezas de Castro Laboreiro é a gastronomia. Entre os paladares obrigatórios constam os enchidos, a vitela e o cabrito. A carne tem outro paladar, graças aos pastos da montanha. Há ainda o bacalhau com broa, muito apreciado pelos espanhóis. Segundo os entendidos na matéria, a água fria e límpida da serra, onde é demolhado, faz toda a diferença.
A distância dos grandes centros e o isolamento durante séculos faz de Castro Laboreiro um local riquíssimo. Conheça a sua história no Núcleo Museológico. Mesmo ao lado, a representação de uma casa típica castreja. Construída a pensar nas baixas temperaturas, apresenta uma porta pequena e um telhado de colmo (por incrível que pareça a neve e a chuva não entram e o fumo das fogueiras sai). Em baixo, ficavam os animais, uma fonte de calor no inverno.
O ex-líbris é o castelo, a 1025 metros de altitude. O caminho é só para os mais audazes. Íngreme, por entre rochedos de granito, vale o esforço. Pelo meio várias surpresas. Desde as paisagens, os moinhos e as belas cascatas do rio Laboreiro, considerado um dos melhores do mundo para fazer canoagem. As lontras são uma das suas habitantes, provando a pureza das águas.
O castelo é um conjunto de ruínas. Segundo os antigos, noutros tempos um raio terá atingido umas das torres. A pólvora aí armazenada terá provocado uma forte explosão, destruindo praticamente a estrutura. De cima, as vistas são de cortar a respiração: desde as montanhas, os rochedos de granito, os campos verdejantes e a pitoresca urbanização de Castro Laboreiro. O ar é puro, prova disso são os líquenes existentes nas árvores.
As pontes do tempo dos romanos e as brandas e as inverneiras são outros dos locais apreciados pelos forasteiros. Um fim-de-semana não chega. Especialmente para quem quiser percorrer os trilhos existentes pelas montanhas. Há sempre o risco de avistar javalis, veados, texugos, águias-reais, lobos, corços e garranos. Sem esquecer os típicos cães Castro Laboreiro, para quem não sabe uma das raças mais antigas da Península Ibérica. Não é por acaso que a maioria dos turistas regressa.
Fotografia: Jone-M