Neste mundo em que o preconceito nos corre nas veias, sermos nós próprios é realmente difícil. Vivemos numa sociedade onde somos julgados por tudo e mais alguma coisa, sem sequer nos darem a hipótese de justificarmos as nossas opções ou de as explicarmos, para que as entendam.
Há preconceito em tudo o que fazemos: os homossexuais são julgados, os transsexuais são julgados, as pessoas de outras etnias são julgadas, as pessoas com outras religiões são julgadas. No entanto, não precisamos sequer de falar desses exemplos mais óbvios. Basta-nos parar para pensar e ver que somos julgados até por sermos ambiciosos, determinados e querermos um futuro, por exemplo. Se não queremos nada da vida nem pensamos no futuro somos uns “zés-ninguém”, mas se sabemos bem o que queremos “temos a mania”.
Se somos presos por ter cão e presos por não ter, é normal começarmos a questionar se vale a pena sermos nós próprios ou se, por outro lado, não será mais vantajoso seguir o rebanho de ovelhas ronhosas que acham que a maioria é que está certa e que, por isso, devemos segui-la sempre?
Um dia li uma frase, associada a uma foto de um jogo de tétris, que dizia “se estiveres sempre a mudar para te encaixares, vais acabar por te diluir”. Por outras palavras, se mudarmos quem somos para tentarmos fazer parte da grande maioria da sociedade, vamos acabar por passar despercebidos entre esse grande grupo e por sermos só mais um igual a tantos outros.
Defenderei sempre a ideia de que temos de ser nós próprios. Se os outros não nos aceitarem, o problema não é, certamente, nosso. Quem nos amar de verdade, independentemente da relação que tiver connosco, ficará apesar de sermos como somos. Os nossos valores, a nossa forma de estar na vida e a nossa maneira de ser não devem mudar por ninguém, a não ser que nos sejam prejudiciais ou prejudiciais a outrem. De resto, se forem valores intrínsecos ao nosso ser e maneiras de estar que não magoem ou coloquem em causa outras pessoas, quem tiver de nos aceitar fá-lo-á.
Esta semana pediram-me que explicasse como podemos despertar a nossa essência. Assim como só podemos fazer o caminho caminhando, eu acredito que só podemos despertar a nossa essência tentando ser sempre nós próprios, mesmo quando aparecerem pedras no caminho ou pessoas que teimem em julgar-nos por aquilo que faz de nós quem somos.