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A lenda das paredes que choram – parte I

A pressão sobre Yusuf, o jovem sultão adensava-se. Nada parecia conseguir afastar as nefastas e duras palavras dos seus mais fiéis conselheiros. Mas ele precisava de tempo. Tinha uma solução que era um segredo e apenas precisava de tempo para o segredo ser a solução.

Poucos anos após a fortuna entregue-lhe pelo real divino, Yusuf tornou-se sultão, a mais nobre e poderosa figura do reino. Os primeiros anos foram de paz e de glória. Casou-se com formosas senhoras de valia intelectual, critério imprescindível para conceber filho varão capacitado para o suceder e talvez o suplantar no mais alto degrau do reino. Entre elas, Zaida era a preferida. Mulher de intensa beleza que lhe iluminava o coração. Enamorou-se e sentiu-se também por ela enamorado. Em pouco tempo, a relação entre ambos tornou-se o epíteto máximo do amor. As noites iluminavam-se com o calor da paixão quando juntos se deitavam. Apenas com ela acordava nas manhãs.

Acontece que toda a dedicação e presentes luxuriantes que a ela ele dedicava, despertaram o ciúme nas outras mulheres da corte. E do ciúme nasceu o ódio. Zaida começou a ser alvo de intrigas e de ameaças. Acidentes e incidentes começaram a acontecer. Zaida, por astúcia e também por sorte, conseguiu sempre escapar aos mais graves atentados.

O sultão, procurando interromper um conflito bélico desejado pelos seus conselheiros, partiu em viagem para se reunir com o seu homólogo do reino vizinho. Mas ao perpetuar a paz que ambicionava para o seu povo, afastou-se por algum tempo da vida da sua amada. As viagens de estado ou as longas reuniões para decidir o destino do seu povo não lhe permitiam ser testemunha da violência psicológica que Zaida enfrentava. Nessa solidão a beleza de Zaida começou aos poucos a perder a sua luz.

Regressou enfim num final de tarde, matando a saudade por entre um beijo enamorado, o Yusuf sentiu uma lágrima no seu rosto. Zaida chorava silenciosamente e ele sofreu com a dor dela. A algum custo, contou-lhe o que começou a suportar quando o amor deles se intensificou e se tornou claro que ela mais que todas as outras. As calunias, as ameaças, o terror iraram o sultão. Pediu aos seus fiéis guardas que juntassem as mulheres para as enfrentar.

Zaida esperou na torre mais alta do castelo com a esperança que a vida se tornasse mais alegre. Quedou-se a assistir ao pôr do sol dourado que aquecia a noite que chegava, o sol baixo ainda vibrante como brasas incandescentes em carvão negro. Com o lume a apagar-se a ser a noite que caía, Zaida abeirou-se das escadas para se refugiar do escuro quando sentiu uma mão nas costas.

Veio o sultão a encontrá-la inanimada no fundo da estreita escadaria da torre. A pele arranhada do rosto, os sulcos de carne viva nos braços, os ossos quebrados de uma perna que não devia ter aquela forma. Mazelas que foram apenas um lamento perante a mancha de sangue enegrecido que lhe cobria o ventre.

Os maiores eruditos do reino nas artes da medicina foram chamados. Todos concordaram, Zaida carecia de longa recuperação mas não corria perigo de vida, mas seu filho que trazia no ventre, partira cedo demais ainda antes de poder saber o que é a vida.

Recuperando, Yusuf chorou aquela perda a seu lado, e ela com ele. Então Zaida contou-lhe que naquele final de tarde, chorava silenciosamente para o filho de ambos não a ouvir. Naquele final de tarde, ia contar-lhe que um fruto do amor de ambos ia nascer para os tornar imortais. A felicidade do momento havia sucumbido ao medo das ameaças de que era alvo, o medo era pelo seu filho, pelo que lhe poderia acontecer. O sultão chorou e olhando-a nos olhos, ouviu-a dizer que alguém a empurrou do cimo das escadas.

Subitamente, as lágrimas do sultão transformaram-se em faíscas de raiva e logo nesse momento, decidiu reagir.

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