A “Guerra” entre Israel e Palestina não é uma Guerra

Há mais de uma semana, o mundo tem assistido um dos casos mais brutais de genocídio e limpeza étnica da modernidade, transmitidos ao vivo na TV e mídias sociais. Antes de explorar os detalhes e a política por trás do que está acontecendo na Palestina, é essencial estabelecer as definições formais de limpeza étnica e genocídio.

Limpeza Étnica e Genocídio

Limpeza étnica, de acordo com a ONU, é “uma política intencional projetada por um grupo étnico ou religioso para remover, por meio de meios violentos e aterrorizantes, a população civil de outro grupo étnico ou religioso de áreas geográficas específicas.” Além disso, a ONU define genocídio como “atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.” Ambos são crimes de guerra.

Com essas definições em mente, os acontecimentos recentes na Palestina apontam para uma situação profundamente preocupante e alarmante que se enquadra nos critérios estabelecidos pelas Nações Unidas de limpeza étnica e genocídio. A evidência de deslocamento forçado, violência contra civis e destruição de lares e comunidades na Palestina ilustra vividamente uma tentativa deliberada e sistemática de remover um grupo étnico e religioso específico da sua terra. Até agora, 2.200 civis morreram e mais de 10.000 ficaram feridos devido a ataques aéreos noturnos, de acordo com a Reuters.

Fonte: https://www.aljazeera.com/news/liveblog/2023/10/8/israel-palestine-escalation-live-israeli-forces-bombard-g

Israel cometeu vários crimes de guerra contra a Palestina na última semana, incluindo o uso de fósforo branco, privação de alimentos e água, e ataques intencionais a hospitais.

A situação na Palestina é frequentemente comparada ao apartheid, estabelecendo paralelos com a segregação e discriminação na África do Sul. O termo “apartheid” descreve perfeitamente os atos sistemático de discriminação e segregação impostos por Israel nos territórios ocupados na Palestina.

Os palestinos enfrentam restrições em sua movimentação, acesso limitado a recursos e disparidades legais em comparação com os israelenses. Palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza estão sujeitos a sistemas legais diferentes do que os israelenses que vivem em locais próximos, criando uma realidade segregada.

Contexto Histórico 1922-1993

Para entender a realidade profundamente complicada da situação, é importante primeiro entender a história. Após a Primeira Guerra Mundial, a dissolução do Império Otomano levou à divisão de seus territórios entre as potências europeias. A Palestina, em particular, ficou sob mandato britânico em 1922, com a Declaração Balfour apoiando o estabelecimento de uma pátria judaica na região. No entanto, os interesses britânicos na área foram a principal razão por trás desse apoio ao movimento sionista.

Com o apoio da Inglaterra, o movimento sionista intensificou sua colonização, estabelecendo um protoestado chamado Yishuv na Palestina. O patrocínio britânico possibilitou sua expansão, ao mesmo tempo que suprimia os movimentos palestinos. Isso continuou até 1948, quando o conflito se intensificou, resultando na limpeza étnica dos palestinos e na destruição de suas comunidades. Esse período, conhecido como Nakba, marcou um grande momento na história de Israel.

Nos anos que antecederam o estabelecimento de Israel, surgiu uma estratégia dentro do movimento sionista chamada a “Lógica da Eliminação”. Essa ideologia visava forjar um estado judeu exclusivo no meio da população palestina, impulsionando uma série de campanhas de limpeza étnica que começaram antes da guerra de 1948.

A ONU propôs um plano de partilha em 1947, que foi rejeitado pelos palestinos que se opuseram à alocação de terras. A liderança sionista, no entanto, aceitou a partição publicamente enquanto criava planos de expansão além do estabelecimento do estado judeu.

Essas aspirações expansionistas são vistas no Plano Dalet, uma iniciativa desenvolvida pelo Haganah, que levou à expulsão de aproximadamente 800.000 palestinos de suas aldeias. O resultado do conflito foi a demarcação da Linha Verde, marcando as fronteiras de Israel. Ao mesmo tempo, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza caíram sob o domínio jordaniano e egípcio, respectivamente.

Esse período, caracterizado pela limpeza étnica, manobras estratégicas e delineamento de novas fronteiras territoriais, criou bases para as leis discriminatórias que continuam a moldar o conflito entre Israel e Palestina hoje. Desde 1948, a Palestina perdeu mais de 4.224.776 acres de território. No final de 1948, Israel controlava 78% da Palestina, enquanto o Egito e a Jordânia controlavam os outros 22%.

Em 1993, os Acordos de Oslo foram assinados, e a Autoridade Palestina (AP) foi criada. A AP foi criada para agir como um governo provisório e ter controle limitado em áreas específicas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Inicialmente, os Acordos de Oslo previam a AP como a precursora do primeiro governo palestino democraticamente eleito, mas isso nunca aconteceu.

Bloqueios, Bombardeios e Eleições

A primeira vez que os palestinos participaram em eleições foi em 2005, quando o Hamas foi eleito. Dois anos depois, Israel condenou o Hamas como um grupo terrorista e impôs bloqueios à Faixa de Gaza. Apesar de a Palestina não ter um exército terrestre, uma marinha ou uma força aérea, Israel lançou ataques militares contra Gaza em 2005, 2012, 2014 e 2021.

Aproximadamente 2,3 milhões de pessoas vivem na Faixa de Gaza, que tem apenas 365 quilômetros quadrados. Para comparação, Houston, nos Estados Unidos, tem quase o mesmo número de habitantes e tem uma área de 1.659 quilômetros quadrados. A Faixa de Gaza é uma área densamente povoada com acesso mínimo a recursos devido aos bloqueios impostos há mais de 15 anos.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-10-16/israel-announces-another-safe-passage-for-gazans-to-move-south

Hoje, os habitantes de Gaza ainda enfrentam a ameaça de limpeza étnica e genocídio. O Ministro da Defesa de Israel, Yoaf Gallant, anunciou publicamente que eles “estão impondo um cerco completo a Gaza: sem eletricidade, sem comida, sem água, sem combustível. Tudo está fechado. Estamos lutando contra animais humanos, e agiremos de acordo.”

Manipualção da Mídia

Representantes de países ocidentais, como o Presidente norte-americano Joe Biden, rapidamente expressaram seu apoio a Israel e descreveram o esquartejamento de quarenta bebês israelenses pelo Hamas como “um ato de pura maldade”. Fact-checkers comprovaram que os relatos dos bebês decapitados eram falsos, e a Casa Branca foi forçada a retificar sua declaração. 

A influencer Huda Beauty relatou que sua imagem foi usada ao lado de uma bandeira israelense em um anúncio pró-Israel sem sua permissão.

“Eu só quero que você saiba até que ponto a manipulação da mídia está acontecendo”, compartilhou Huda em um vídeo postado em sua conta no TikTok.

@hudabeauty

#fyp #foryou #palestine #fakemedia @Huda

♬ original sound – Huda Beauty

A propaganda é apenas um aspecto da desumanização que os palestinos sofrem hoje em dia. Ao refletir sobre a história, desde o apoio ao movimento sionista até o Nakba e as lutas pela autodeterminação, fica claro que o conflito israelense-palestino não é apenas uma guerra, mas uma tragédia profunda e contínua.

O exército israelense está classificado em 18º lugar entre os exércitos mais poderosos do mundo, e seus aliados incluem os Estados Unidos e o Reino Unido, respectivamente o 1º e o 5º no ranking. Isso não é uma guerra. São as nações mais poderosas do mundo lutando contra civis que são vítimas de violência há décadas. Acima de tudo, de acordo com a definição da ONU, isso é um genocídio.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

A arte e o significado da vida

Next Post

Automatização e Desumanização

Comments 1
  1. Enfim!
    O HAMAS é um grupo terrorista financiado exatamente por aqueles que chamam de operações militares especiais, ao que na realidade são genocídios movidos pela sede de soberania e imperialismo. É um exército de humanos sem escrúpulos que usam os palestinos como escudos. E sim, decapitaram mesmo bebés com a mesma naturalidade e frieza de quem esfrega um olho. São o estado islâmico da faixa de Gaza.

    O mundo vai mal, quando a sociedade baseia às suas fontes em redes sociais como o tik-tok.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Sociedade em Dó maior

Escrevo este texto ao som de Mozart. É uma das minhas companhias favoritas para escrever. Não faço questão que…

Xeque-mate?

Chegou o dia em que a Europa e o Mundo assistem a uma transformação que, para o bem e para o mal, poderá vir a…

Vinte e (H)umano

Humano, da sua génese taxonómica Homo sapiens, traduzido do latim como “homem de sabedoria”,…

Florence Nightingale

Esta mulher, cheia de carisma, foi a fundadora da primeira Escola de Enfermagem de Inglaterra, no Hospital Saint…