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A geração que nunca imaginou emigrar Parte 2

Uma tendência já de várias gerações

No caso de Cândida Esteves, de 22 anos, a emigração tem passado de geração em geração. O seu pai é emigrante na Suíça há trinta anos, tem ainda familiares espalhados um pouco por todo o mundo: desde o Canadá, Brasil, Estados Unidos da América e ainda em França, onde ela agora também vive, desde Dezembro – em Montepellier.

A emigração “surgiu como da noite para o dia”, na eminência de ficar sem emprego e sem grandes perspectivas de encontrar tão cedo trabalho, em Portugal, aceita, sem pensar muito, a oferta que tinham os seus familiares, emigrantes em França, para trabalhar como servente num Café/Restaurante. “Em Portugal estava prestes a ficar sem emprego e para encontrar outro sabia que não ia ser fácil. Entretanto, a minha família cá (Montepellier) já me tinha comunicado que, caso quisesse havia uma oferta de trabalho à minha espera. Decidi aceitar sem pensar muito no assunto e cá estou eu”. É sempre difícil para a família ver os filhos seguirem as mesmas pisadas, quando se trata de emigrar. “É triste, mas, em contrapartida, sei que os conforta saber que, apesar de estar longe de casa, estou bem, tenho emprego e um salário ao fim do mês”.

Com apenas o 12º ano de escolaridade, admite que a ausência de um canudo nas mãos condiciona sempre, quer no estrangeiro, quer no nosso próprio país e que, se tivesse uma escolaridade mais avançada, provavelmente não tinha tido necessidade de partir para outro país na busca de uma vida melhor. Contudo, por outro lado, não tem tanta certeza, uma vez que vê tantos jovens licenciados a partirem em busca de oportunidades e de uma qualidade de vida que o país não consegue oferecer.

reportagem emigração (4) (1)Quando era mais nova não se preocupava muito com o que poderia vir a ser um dia, mas admite que a emigração foi um assunto que nunca lhe tinha passado pela cabeça. “Tinha perspectivas, sim, mas nunca fora do meu país. Mas tudo muda, os anos passam, os planos e objectivos de vida mudam. Na maioria das vezes, vemo-nos obrigados a mudar com eles”.

Com dois irmãos mais novos, afirma que a irmã com 13 anos de idade não tem, por enquanto, perspectivas em emigrar. Porém, o irmão de 18 anos já falou várias vezes no assunto e ambiciona em apostar na área de Mecatrónica Automóvel fora do país.

Quatro meses depois, ainda, não se considera emigrante. “Estou ainda na fase de adaptação. As perguntas como esta são frequentes, mas as respostas não variam muito. Praticamente todos os dias me cruzo com pessoas que me perguntam: ‘que tal a França? Estás a gostar?’. A resposta é mais que óbvia: ainda não aprendi a gostar. Estou na fase de descoberta. Não tenho nada que me faça ver as coisas de uma forma mais positiva, apenas a esperança de encontrar uma qualidade de vida melhor, do que a que o meu país me consegue oferecer”.

Nesta mudança radical de vida “tudo custa”. “Quando vês os dias a passar, começas a sentir falta das pessoas com quem lidavas diariamente, pessoas, que fazem parte da tua vida. É difícil. Penso que às vezes é necessário passar por algumas dificuldades na vida, basta saber encará-las com força e positividade”. Prestes a começar a estudar francês, o plano passa por manter o emprego e conseguir alguma estabilidade financeira. “Os planos vão surgindo à medida que surgem as oportunidades. Surgiu a oportunidade de tirar um curso e sei que isso me vai ajudar imenso na adaptação”.

Regressar, sim, mas não tão cedo. “Provavelmente dentro de dez, quinze, ou mesmo, vinte anos. A vida dá muitas voltas, mas, se vim para cá, foi para fazer a minha vida aqui e, caso não apareça nenhum inconveniente, é assim que vai ser. Não posso pensar já em regressar”.

Perante todas as dificuldades que se vivem no país, Cândida Esteves aconselha a emigração. “Sei que a vida não é fácil para ninguém seja onde for, mas, se estiverem com dificuldades e surgir a oportunidade, não hesitem em aceitar, se for através de familiares, ainda melhor, é uma segurança. Não é fácil deixar o nosso país, a nossa casa, a nossa rotina, mas temos que pensar em nós e no nosso futuro. Não podemos ter medo de arriscar, se não o fizermos, nunca saberemos como podia ter sido. Para quem está na dúvida, se deve, ou não fazê-lo, aconselho a fazê-lo”.

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