Procurava, há dias, opiniões relativas a um determinado livro, numa conhecida plataforma cujo objetivo é partilhar os livros que se lêem e respectiva apreciação sobre os mesmos. São raras as vezes em que o faço, na verdade. Leio os livros que me suscitam interesse, sem me preocupar com opiniões alheias e teço, mentalmente, as minhas considerações após a leitura. Mas aquele livro em específico causou-me mixed feelings e senti necessidade de perceber se seria só eu. Talvez me tivesse escapado alguma coisa. Entre as diversas opiniões que surgiam, havia uma leitora que classificava o livro com uma estrela apenas (em cinco) e dizia qualquer coisa como isto: diálogos pobres, com personagens irritantes, fúteis e vazias. Tentativa falhada de reflexão sobre o tema a que a autora se propunha.
O livro em causa não era de um escritor estrangeiro, que jamais irá ler um comentário em português (a menos que seja maníaco e peça ao editor a tradução dos comentários partilhados em todo o mundo). O livro é de uma autora portuguesa que, acredito, esteja atenta a tudo o que é dito sobre a(s) história(s) que escreveu, até porque, não sendo uma autora de renome, não há-de vender assim tanto que não consiga acompanhar o que por aí se diz.
Este é apenas um exemplo do que considero uma forma cruel, mesquinha e profundamente desnecessária de se estar em comunidade. “Ah, mas todos temos direito à nossa opinião!” Certíssimo. O que não temos direito é de maltratar os outros, crentes numa superioridade intelectual – muitas vezes moral -que ninguém tem verdadeiramente.
Saberá aquela pessoa o quão duro é escrever um livro e, mais ainda, conseguir publicá-lo, em Portugal? Terá noção dos meses, quem sabe anos, despendidos pela autora a construir aquela história, até considerar que estava pronta para a entregar ao mundo? Quanta infelicidade haverá por detrás daquele comentário para que não exista nenhum tipo de pejo em partilhá-lo publicamente? Porque é essa a questão, no fim do dia. Quem não é feliz, não tem como espalhar felicidade.
O exemplo que dei foi apenas isso, um exemplo. É abrir as redes, percorrer os comentários e perceber que as pessoas, das duas uma: ou perderam a noção, ou estão apenas extremamente infelizes com as suas vidas e muito invejosas da vida dos outros.
Há mil e uma formas de nos expressarmos relativamente ao que pensamos e sentimos em relação seja ao que for. Podemos fazê-lo de forma destrutiva, como esta leitora fez, ou podemos fazê-lo de forma construtiva, dando ideias e sugestões sobre o que gostaria de ter lido. Mas talvez seja esse o problema. Ter ideias não é para todos. E depois ficam apenas palavras soltas, sem conteúdo, sem nada que acrescente ou sirva para melhorar.
Dirão vocês, “mas às vezes não há mesmo forma de se ser construtivo”. Pois não, às vezes não há, é verdade. E nessas alturas, podemos fazer uma coisa muito simples. Ficar calados. Porque quando não há nada de bom a dizer, o que de mais generoso podemos oferecer, é o silêncio.