As opiniões divergem e muito. Começaram já no Parlamento, com a proposta de lei a ser aprovada pelos partidos Le République en Marche, Movimento Democrático e União dos Democratas e Independentes, que descrevem esta medida como sendo “um sinal à sociedade e que servirá como uma desintoxicação tecnológica.” Por outro lado, a opinião dos restantes partidos é que será uma medida inútil e que não faz sentido nenhum.
Com esta medida, o ministro da Educação acredita que irá ser combatida a distração nas salas de aula, diminuindo o cyberbulling, aproximando os jovens.
Muitos acreditam que a escola tem que se adaptar à nova sociedade, que banir os telemóveis vai fazer com que as crianças fiquem desmotivadas, pois, se vivemos numa sociedade que permite e que quase exige o uso do telemóvel, não poderá a escola proibi-lo. Uma melhor medida seria acompanhar e limitar a sua utilização.
Na minha opinião, esta ideia, esta “proibição” só poderá trazer muitos benefícios. Cada vez mais, a tecnologia é oferecida muito cedo, é dada tão facilmente e, se observarmos bem, veremos como chega a ser assustador. Veio substituir o tempo em família, o tempo de brincar, o tempo de conversar, o tempo de gargalhar.
No supermercado: “Deixa, não chores, a mãe põe o jogo que tu queres!”
No restaurante: “Está bem, vê o vídeo no telemóvel, não chores. Vê e come!”
No trânsito: “Para lá de resmungar! Pega no telemóvel, podes instalar aquele jogo!”
Na festa: “Estás aborrecido? Coitadinho! Estás cansado. Podes jogar o teu jogo preferido.”
Pai Natal: “Sim, estragaste o teu Tablet. Certamente o Pai Natal traz-te outro.”
Este, coitado, mesmo que não quisesse teria de colocar os duendes a fabricar tecnologia topo de gama.
É isto! É sempre isto. Saímos e, se olharmos à volta, são imensas as crianças, muitas ainda de colo, com tablets e telemóveis na mão. A tecnologia fez-se chegar como um milagre que faz passar o dói-dói, a birra, a falta de educação. Depois meio mundo fica escandalizado, porque a França quer proibir o uso destas tecnologias nos recintos escolares.
No outro dia, lia a investigadora Eduarda Ferreira, ligada ao projeto Europeu “EU Kids Online”, que defendia que a escola não deveria resistir ao uso dos telemóveis no meio escolar, pois este funciona já como uma extensão do corpo humana, vendo o aparelho como um instrumento muito útil em conceito escolar e que a sua utilização faria com que percebessem o limite de estar “on” e “off”. Comparando esta ideia com o papel que a escola tem na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis ou com o uso das drogas. Acabando por se contradizer, pois as drogas estão proibidas nas escolas, mas são faladas, conseguindo passar a informação do certo e do errado sem permitir o seu uso. O mesmo tem que acontecer com os telemóveis, não é a sua proibição que vai fazer com que não se eduque para um bom uso do mesmo.
O tempo perdido nos telemóveis é demasiado. Crianças e jovens não convivem nos intervalos, poucos são os jogos que estimulam o corpo a mexer. As gargalhadas, os abraços, as conversas, as discussões, o espírito crítico, o respeito pelo outro, não se pratica. Tudo ficou confinado a um pequeno ecrã.
O mundo é tecnológico, mas de que vale tanta tecnologia, se não soubermos ler e escrever, se não tivermos oportunidade de viver experiências reais, de sentir as frustrações diárias, de estar em confronto directo com o outro.
A proibição do telemóvel/tablet no recreio vai fazer com que procurem outras coisas. Para fazer brincadeiras reais, que não as deveríamos ter deixado esquecer.
Quanto a dentro das salas de aula, que falta fazem?
Para contas, usem, por favor, uma calculadora.
Para pesquisar, existe um motor de busca fenomenal e chama-se Biblioteca.
Para fotografar, existem umas brilhantes Máquinas Fotográficas. Se bem que com esta loucura da proteção de dados, daqui um uns dias nem as moscas podemos fotografar.
Querem ensinar sobre o perigo do uso da Internet e tal e tal?! Falem sobre isso, discutam o assunto. Ter ali à mão um telemóvel não muda em nada.
É certo que a maior parte do tempo fora da escola não vai mudar, vai ser sempre mais virtual do que real, mas que o tempo de escola seja de conexão com o mundo real, aquele mundo que não cabe na maior memoria do mais avançado telemóvel.