A felicidade na infância

Oito anos é uma idade maravilhosa.

São crianças entusiastas, curiosas, criativas e espontâneas. Já sabem ler (pelo menos +-) e isso dá-lhes uma graça especial, são excelentes companhias e muito divertidos e adoram maluquices (saltar na cama dos pais, não é mesmo?). Já começam a demonstrar alguma empatia e compaixão misturada com o desejo de independência pelo que também vão tendo sentido do que é certo ou errado (aiii, as injustiças!!!).

Pena que não têm tempo.

Há um montão de coisas que têm que aprender. E têm capacidade, não duvido, mas com um excesso de matéria num programa infinito de conhecimentos a adquirir fica difícil, cada vez mais.

É. No nosso (meu) tempo não era assim… Aquilo que a minha filha tem que saber no 3.º ano, há 30 anos aprendia-se no 5.º ou no 6.º ano. Sei, era impossível manter as coisas iguais, mas sinceramente acredito que  só aumentou a quantidade e não a qualidade e eficácia do ensino. Não, não me refiro aos professores – nem vou por aí, pois têm que cumprir o programa – o que acredito mesmo é que existe pouco tempo para demasiada informação.

Ah, sim, os miúdos estão cada vez mais espertos. Têm maior compreensão. Claro. Masssss… Terão os miúdos tempo de exercitar o que foi aprendido? A qualidade de aprendizagem não é mais importante do que enchê-los de matéria? São frequentemente tratados como mini-adultos, passando dias inteiros nas escolas, treinando para trabalhar daqui a uns anos, horas e horas para satisfazer as necessidades económicas da sociedade.

E o que dá a sociedade em volta?

Manadas de adultos desmotivados, com pouca auto-estima, falta de crença em si mesmo e com poucas competências. Muitos infelizes nos seus trabalhos, sem se sentirem realizados e a cometerem erros atrás de erros. É nisto que queremos insistir? É para continuar assim?

Vemos todos os dias as crianças a quererem já ser adolescentes e de adolescentes a se comportarem como adultos e esquecemo-nos que toda a sociedade os impele para isso, que simplesmente não têm outras saídas senão embarcarem na maré. Estamos a apressá-los sem respeitarmos o tempo deles. Como também não respeitamos o nosso. Sabemos que não estamos a oferecer-lhes o melhor em termos de aprendizagem, mas ainda assim continuamos. É útil estar por dentro da cultura geral mas também não podemos roubar a infância dos nossos filhos com exigência de conhecimentos, informação e sejamos sinceros: com julgamentos e comparações.

Acredito no caminho do meio. E como mãe tenho a crença que incentivá-los a ser a melhor versão de si próprios é o caminho a seguir. Ensiná-los que também há a outra parte, aquela que não se aprende tão facilmente: a serem eles mesmos e a amarem-se por isso.

Entre programas escolares e actividades não há tempo para eles próprios desbravarem os seus caminhos e descobrirem quem são. Se os miúdos – independentemente da idade – não tiverem pais presentes que lhes dediquem algum tempo e atenção terão muitas dificuldades em assimilar tudo e a superarem-se a si mesmos. É que na escola – ou em casa – esquecemos muitas vezes que os métodos que funcionam para uns, não funcionam para outros. E continuam os miúdos a serem avaliados ao molhe! Constantemente “condenados” por não se integrarem, por serem diferentes. É justo ensinar todos da mesma maneira e lhes encher a cabeça com tanta informação até que todo o sistema se confunda e faça BOOOMMM? É assim que uma sociedade evolui? E os pais? Que muitas vezes querem ajudar mas não sabem. Onde está o apoio deles? Explicações? (mais dinheiro, mais tempo despendido). Não se deveria dar também atenção a esses pais?

Não entendo por que em vez de se abrirem possibilidades, se castra e diminui as competências. A escola deveria ser um lugar seguro para crescer onde se pudesse ensinar que cada ser humano tem um conjunto de competências e mais-valias únicas que podem ser aproveitadas e desenvolvidas.

Acredito mesmo que devemos aproveitar o potencial de cada um para melhorar a sociedade e criar adultos capazes, independentes, com opções e oportunidades de escolha em vez de empurrá-los para mercados de trabalho que exploram e não premeiam, que tornam os funcionários dependentes e com medo de mudar.

Mas isso não acontece. As pessoas passaram a ser números. As pessoas não são ajudadas, nem na educação, nem na saúde, nem noutra área que precisem. Cada um tem que se desenrascar com as poucas ferramentas que tem. Tem que sofrer para que os que estão à volta se dêem conta e ajudem.

E isto aprende-se logo na infância. O conhecimento é poder, mas também existem outras coisas. Há mais, especialmente para os que não se enquadram. Pergunto-me porque é que o sistema não melhora. Porque é que as coisas são “organizadas” em “cima do joelho”? Porque a sociedade continua a insistir no consumismo, nas limitações, nos padrões repetitivos que não levam – a maior parte – a lugar nenhum.

A estrutura de educação está como está. O sistema de saúde está como está. A maioria dos patrões são como são.

Porque não  se faz diferente já na infância?

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