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A Escravidão das Audiências

Imaginem o atual cenário da nossa televisão portuguesa como uma Guerra Fria, como se viveu no pós Segunda Guerra Mundial. Muita tensão no ar, a pressão a aumentar cada vez mais, as ideias a faltarem, o suor a cair pelas testas daquela malta que já não sabe o que fazer à vida.

A TVI foi líder durante muitos anos, ficando à frente da SIC e RTP, pelos mais variados motivos. Conseguiu sempre cativar os tugas e desde que introduziram os reality shows nas nossas vidas, nunca mais fomos os mesmos. As novelas sempre foram bastante cativantes pelos enredos complicados, por termos sempre a nossa Alexandre Lencastre a brilhar nos papeis de vilã e por conseguir reunir um leque de atores bastante profissionais e com jeito para a coisa. Por exemplo, os “Morangos com Açúcar” foram um marco na vida dos teenagers e até dos próprios atores, que eram desconhecidos e passaram a ter uma carreira.

A SIC, durante anos, tentou deixar de ficar na sombra da TVI, mas nem sempre conseguiu. Primou com o programa apresentado pelo Henrique Mendes, o famoso “Ponto de Encontro”, que marcou gerações e reuniu famílias em frente ao ecrã e dentro da própria caixinha mágica. O canal conseguiu arrecadar seguidores com as novelas da Globo que passavam em Portugal. Venha quem vier, ninguém bate os atores brasileiros nem as suas novelas com os enredos mais incríveis que se possam imaginar. Só um aparte, “Avenida Brasil” e “Escrava Isaura” são as novelas da nossa vida.

A SIC foi conseguindo, durante alguns anos, criar alguns programas que foram um sucesso, como o “Big Show SIC”, com o João Baião, o “Agora ou Nunca” com o Jorge Gabriel e com a emblemática frase “Ponha! Ponha! Ponha! Ponha!” Criou depois o “Salve-se quem Puder”, onde nos rimos imenso e foi, para mim, um grande programa de entretimento. Claro que terminou pelo mesmo motivo de muitos outros: falta de dinheiro.

Devem estar a perguntar por que só falo da TVI e da SIC e não da RTP. A razão é simples: onde se sente mais esta guerra de audiências é entre estes dois canais. A RTP sempre se habituou a ter aqueles números, criando alguns programas que nos fazem ver a RTP, como por exemplo o “5 Para a Meia Noite”, o “The Voice” ou até mesmo o “Joker”. Em relação ao “Preço Certo”, enquanto existirem idosos no país, o Fernando Mendes jamais irá para o desemprego. Tenho um tio que vê religiosamente este programa todos os dias.

Contudo, voltando à guerra das audiências, ao longo destes anos sentimos a pressão entre os dois canais em nos quererem agradar e cativar para aumentarem os números. A TVI sempre foi líder, fosse no horário noturno, como no programa da tarde e obviamente no programa da manhã. Temos de ser sinceros, que a dupla Cristina/Goucha foi das melhores que já vimos em televisão. A química que passavam para as câmaras cativava-nos de tal forma que nos faziam ver todos os dias de manhã o raio do programa. O “Você na TV” era aquele programa que conseguia juntar brincadeira e assuntos sérios todos no mesmo programa. E agora perguntam: porque estás a falar no passado? Porque isso mudou, mas já lá vamos.

A menina saloia da Malveira chegou à televisão para ficar e reinar. Durante anos, foi a estrelinha especial da TVI com direitos a mordomias dignas da realeza. Aquela voz estridente e aquele à-vontade são para a nossa Tininha armas importantes para ela arrastar os números das audiências com ela. A TVI sempre esteve no pódio como o canal preferido dos tugas e, por isso, sempre esteve mais à vontade com os números e principalmente em inventar programas. E até acertavam na maior parte das vezes.

Jamais poderemos esquecer que os reality shows foram um marco importante no canal. O “Big Brother” com o Zé Maria, o pontapé do Marco e a Martinha que acabou por ficar no canalzito são personagens que vão ficar na nossa memória. Porém, a “Casa dos Segredos” veio agarrar, com larga distância, o serão de domingo à noite na televisão portuguesa. A rainha dos realitys, a nossa Teresinha Guilherme, nasceu para aquilo e disso nunca ninguém terá dúvida. Se o Júlio Isidro foi o rei da TV, a nossa Teté foi e será sempre a rainha dos programas da vida real. Arrecadou audiências, arrecadou escândalos e arrecadou principalmente uns bons euros à pala destes programas. Claro que tudo o que é demais enjoa e as últimas edições já estavam a baixar nas audiências.

Tudo parecia estar em bom porto para a TVI, mas a nossa Tininha já andava a fermentar a saída dela do canal. Quando se é ambicioso, quer-se sempre mais e mais. Não tenho nada contra isso, é bom ser-se ambicioso, mas sem se chegar ao ridículo. A menina saloia sentiu que não tinha um cargo e atenções suficientes e decidiu que queria algo que pudesse dizer “my precious” tipo o Gollum dos “Senhor dos Anéis”. O Daniel Oliveira sobe para o comando da SIC e as coisas começam a juntar-se.

O Daniel foi esperto, viu uma pessoa infeliz no trabalho e deu-lhe aquilo que ela queria. Presa fácil, que valeu muito à SIC. Foi o trunfo que o canal esperava há anos.

Pensávamos que a saída da Júlia Pinheiro para a SIC iria tremer a TVI, mas não. Foi falado, comentado, mas passou. O ano de 2019 vai ficar marcado pela transferência milionária da Televisão. Pinto Balsemão teve de abrir o cordãozinho à bolsa, para poder ver os números das audiências a subir. A TVI tremeu, perdeu e não sabe o que fazer. Quando se fazem as coisas sem pensar realmente, nunca corre bem. Foi o que aconteceu com a ida da Maria Cerqueira para a TVI. Não tenho nada contra a moça e até acho que é uma boa apresentadora, mas não para o “Você na TV”.

As coisas têm a importância que as pessoas lhe dão. A Cristina pode até ser uma excelente profissional, ser uma máquina de fazer dinheiro e conseguir audiência incríveis no programa dela, mas o dia em que lhe deixarem de dar importância é uma apresentadora como outra qualquer. O grande problema está aí, que para a Tininha é o trunfo a que ela se agarra e bem. Ninguém é insubstituível. E as pessoas têm de entender isso.

A TVI anda completamente perdida na maionese, a lançar programas sem nexo e a gastar dinheiro de forma desnecessária. Os canais têm de perceber de uma vez por todas que têm de saber gerir as pessoas que possuem e não apresentarem sempre as mesmas caras. Já pensaram em tentar encontrar alguém que seja capaz de criar uma dupla incrível para o programa da manhã? Há jovens com imenso talento, capazes de gerir um programa desses e renovavam as caras das estações. Na minha opinião, a TVI chegou a esse ponto e, enquanto não perceber isso, vai continuar a criar de forma falhada programas sem nexo nenhum, como o “Mental Samurai”. A sério que tentam combater os jogos apresentados pela Filomena Cautela com isso?

O problema é que um grande canal de televisão deixou transparecer fragilidade e isso nunca deveria ter acontecido. O programa da Tininha tem sucesso, porque tem um formato diferente, é uma casa. Apresenta um programa dentro de uma casa. Foi uma ideia de génio, de facto. Contudo, a única coisa que a TVI está a ver é “perdemos a Tininha” e temos de lhe fazer frente. Deveriam pensar como uma oportunidade de renovarem o conceito da TVI. Porque é que têm de ser iguais aos outros canais? A TVI sempre pensou fora da caixa, porque tem de ser diferente agora?

A Cristina, até é de facto uma óptima apresentadora, mas, na minha humilde opinião, considero-a uma pessoa extremamente egocêntrica. Não há um trabalho em que ela não tenha de estar na capa ou ali especada. Por exemplo, na última capa da revista dela sobre as “Mulheres”, a mim não faz sentido ela nenhum lá estar. A revista serve para contar as histórias de vida das pessoas comuns e não a dela. Já toda a gente sabe a vida dela. Ela não tem de estar sempre em todo o lado, mas, como o ser humano funciona em forma de histeria em massa, segue tudo atrás da Cristina, porque é o que todos fazem.

Imaginem a Cristina a perder seguidores, a deixar de ser falada. Vão perceber que o programa dela é mais um programa e ela é mais uma apresentadora. Eu sei que ela não aparece em todas as capas da revista dela, mas, se uma determinada edição é para contar a história de alguém, porque é que ela tem de lá estar? Não faz sentido para mim. As pessoas não compram a revista se não estiver estampada a cara dela na capa? O mundo não gira em volta da Tininha e, quando as pessoas se aperceberem disso, a carreira da Tininha passa a ser uma carreira normal. Quanto mais se fala de alguém, mais as pessoas lhe dão importância. Já repararam que muitas vezes ela cria cenários de modo a que seja de novo falada e atirada para as luzes da ribalta?

O grande problema da TVI é esse mesmo. Acho que o Goucha é um excelente apresentador, mas com a pressão e responsabilidade que lhe puderam em cima, fizeram o homem desistir do programa da manhã. Não há mais equipas Cristina/Goucha, mas há melhores. As coisas têm de evoluir. Há a notícia agora de que a TVI quer ir buscar o Cláudio Ramos. Mais uma atitude desesperada. O Cláudio é aquela pessoa que não tem a mínima noção do que anda ali a fazer e teve a sorte de criar um rapport bastante bom com a Tininha. Ponto.

Bastava a TVI mudar o conceito do canal, apresentar novas caras e iriam ver que as pessoas iriam falar. Não é uma mudança que se vai ver de um dia para o outro, mas, sendo bem feita, ela vai acontecer. Não é voltar a criar os “Morangos com Açúcar” que lá vão. Tudo tem o seu timing no tempo certo. O programa dos miúdos já ficou lá atrás e o “Inspetor Max” igual.

Eu sei que a TVI está a ser atacada de várias frentes, seja pela SIC, como pela chegada e evolução da CMTV, mas aqui está a chamada “chapada de luva branca” de que a TVI precisava para perceber que nunca se devem encostar a uma pessoa. A TVI tem tudo para provar agora que consegue ser mais e melhor sem a Tininha, mas, enquanto não mudarem o pensamento, a SIC vai ganhando terreno, a CMTV igual e nós continuamos deliciados a assistir a esta guerra de audiências.

Copiam tantos programas lá de fora, como o “Masterchef”, que, sim, senhor, é uma grande aposta da TVI. No entanto, porque não estudam mesmo os programas que existem lá fora? A TVI pode recuperar as audiências do sábado à noite, apostando num programa de entretenimento a sério. Se existe o “5 Para a Meia Noite”, porque não inventar um programa do género? Obvio que não pode ser igual, mas há tantas ideias que podem surgir de um programa desses para o sábado à noite. A questão é que o canal está demasiado perdido e dá a sensação que está a mandar coisas ao ar a ver se alguma acerta em alguma coisa. Claro que a SIC vê isso e aproveita-se.

Sobre a venda do grupo Media Capital à Cofina, não vou tecer grandes comentários. Prefiro aguardar e ver o que vai acontecer. Está aqui exposto o meu canal preferido, que não tenho problemas em admitir que é a TVI e acho que o canal tem muito potencial. Só precisam, na minha opinião, de se sentarem, respirarem fundo e pensarem com clareza.

E não, não sou das pessoas que mais simpatiza com a Cristina Ferreira. Acho que existe um termo para tudo.

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